Conto: O Grêmio

Azulejo da marca espanhola Peronda.

por Diego Alves

O anão adormeceu ao lado da estrela, à qual havia se apegado de forma curiosa — seja pelo mistério e pelas propriedades que a envolviam, seja pela contemplação que passou a surgir a partir do primeiro contato.

Após a batalha contra o invasor, ele temia que algo mudasse em sua vida. Nunca havia derramado sangue anteriormente; contudo, tinha fé de que a mudança era necessária para que se tornasse alguém melhor, alguém que jamais fora um dia. Tomado pela adrenalina, demorou um pouco a adormecer e ficou tentando se comunicar com aquela coisa — criatura, espécie — encarando-a como um mineiro ao ver cristais formados outrora. Quão curiosa era a estrela em suas mãos: tão pequena, tão brilhante.

Dessa forma, adormeceu.

Em seu sonho, a estrela se comunicava com ele em uma imensidão cósmica, um mar de cristais flutuantes e sóis que sentia, de alguma forma, já não existirem mais. De algum modo, sentiu-se em comunhão com as ondas que o carregavam por entre as estrelas e percebeu que ali estava sua verdadeira fé.

Ao acordar, percebeu-se estranho, diferente. A estrela havia desaparecido. Onde estaria ela? Ao se questionar em voz alta, notou sua voz dupla — como a de um homem e de um anjo de voz doce, sussurrando e vociferando ao infinito simultaneamente. Ao se ver em um reflexo, notou algo que lhe causou desconforto, mas não espanto.

Ele tinha razão: muita coisa mudara em si mesmo, por dentro e por fora.

Falando para si, o anão estrelado questionou seu próprio âmago:

— Quem somos nós agora?

E sentiu a resposta tocar-lhe os pensamentos:

— Nós somos parte do universo, e parte do universo nos constitui. Nós somos parte do mar cósmico e de seus desígnios. Nós somos parte do karma e servos do Grêmio, nobres gremistas. Nós somos parte do Grêmio, e o Grêmio agora é parte de nós.

Ao sentir a resposta lhe tocar os pensamentos, o anão se ajoelhou e pôs-se a rezar:

"Grêmio imortal, és o maior do Sul,

Aonde for nós sempre estaremos.

Nas nossas veias corre um sangue azul,

Nós nunca te abandonaremos."

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