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- Diário de Campanha DCC RPG Cap. 1 - Marinheiros No Mar Sem Estrelas
Posted by : luh reynaud
terça-feira, 19 de junho de 2018
Saudações, exploradores do mar
sem estrelas! Por séculos seu povo esteve sob a sombra das terríveis ruínas
onde, segundo contam as lendas, um grande mal outrora foi derrotado. Mas agora
que algo despertou e feras uivam na noite, seus companheiros correm perigo:
camponeses são cruelmente raptados de suas casas e somem sem deixar rastros.
Sem heróis ou ajuda, você e um bando de aldeões corajosos se reúnem para por
fim no terror que os espreita, armados apenas com a astúcia de suas mentes e a
valentia de seus corações. A hora da retribuição finalmente chegou.
Após inaugurar oficialmente Dungeon Crawl Classics aqui no blog – coisa
que eu estava planejando já há um bom tempo – finalmente consegui arranjar um
grupo e rolar a nossa primeiríssima sessão com o sistema! E para iniciar da
maneira mais incrível possível, nada melhor do que uma das mais famosas
aventuras já criadas para DCC RPG: Sailors on the Starless Sea ou
Marinheiros no Mar Sem Estrelas.
Criação de Personagens
Iniciamos com cinco jogadores, a cada
um foram dadas três fichas, ou seja, cada um teria três personagens. Depois de
explicar o básico do sistema e apresentar a resenha que aqui foi postada,
estimulei o pessoal a criar coisas simples mas com conceitos interessantes e
divertidos. Permiti ainda que, caso quisessem, os jogadores pudessem escolher a
ocupação de um dos seus personagens, mas a maioria gostou mais
da sensação de rolar aleatoriamente! Com isso obtivemos um grupo de personagens
acima da média, com alguns poucos fracassados.
Paulo Furão – Banakafalata, o padeiro
que utilizava uma baguete como arma; Pink e Cérebro, os irmãos nascidos no
campo de batalha.
Arthur Autista – Menino Ney, o
ex-mendigo estrela do futebol; e seus dois guarda-costas: o anão chamado Goblin
e o mercenário Sua Mãe.
Heitor Bardinho – Doidim do Ukulele,
literalmente um doidinho que tocava ukelele; Gibrin, anão ferreiro de panelas;
e Calango, um experiente guarda de caravana.
Thiago Thigas – Hisoka, o caçador com
cara de palhaço; Mr. Satan, o vigarista sortudo; e Drago, o adestrador de
pôneis com unhas gigantes.
Jafte Mudinho – DJ, o fazendeiro e sua
galinha Berenice; K, o curandeiro fortão; e H, o halfling “comerciante” que
coincidentemente tem ferramentas de ladrão.
As Ruínas do Antigo Forte
O grande grupo de camponeses iniciou
sua jornada caminhando através das florestas que rodeavam a pequena vila
de Kakaricoh e, graças a ajuda do tenaz caçador Hisoka,
puderam chegar ao forte sem problemas maiores que a quantidade de mosquitos e
muriçocas que os atormentavam. Os guarda-costas e mercenários tomavam a frente
juntamente do caçador, com o valente Calango exercendo o papel de líder.
Finalmente o temido forte se ergueu
acima de uma colina, exalando um cheiro quase sobrenatural de podridão, como se
existisse algo pútrido decompondo-se debaixo daquelas construções de pedra
negra.
O bando decidiu seguir pela trilha que
haviam encontrado, sem analisar o restante das muralhas antes e, com uma
pequena caminhada íngreme, chegaram a um planalto acima do morro, no qual uma
visão aterradora os aguardava: os filhos de Gordon, um dos aldeões mais
queridos da cidade, estavam “empalados” por vinhas tenebrosas, presos a um
tronco retorcido e velho. Os garotos, que haviam sumido durante uma caçada,
agora possuíam cipós saindo de todos os orifícios de seus cadáveres. O
menestrel do ukulele e o padeiro logo tomaram a frente, no intuito de averiguar
os corpos e buscar por itens, contudo com sua aproximação, os cadáveres de
vinhas revelaram sua verdadeira natureza, passando a moverem-se por conta
própria e atacando cruelmente os incautos. A primeira batalha daquela incursão
foi violenta e fatal, resultando na morte por estrangulamento de
três camponeses: o padeiro, o menestrel e o mercenário. O restante do grupo não
se deixou abater, contra-atacaram com força – no caso do guarda Calango – e
astúcia – no caso de Drago, que utilizou seu pônei para esmagar cabeça de um
dos horrores de cipós. Temendo que os seus companheiros mortos pudessem se
erguer como cadáveres monstruosos também, o grupo se reuniu e queimou os
corpos, mas não sem antes pegar os equipamentos de seus parceiros caídos.
Seguindo em frente, passaram por um
pequeno abismo que parecia se abrir para algo maior… A fenda que dividia a
colina era bizarramente escura e os objetos que lá caíam não produziam som de
queda. Enquanto alguns discutiam, os mais valentes, impacientes ou tolos
simplesmente passaram pela pequena tábua e seguiram rumo à entrada no forte: um
umbral com a porta destruída pelo tempo. Calango, o mais a frente, quase foi
acertado pelas pontas afiadas e enferrujadas das grades de metal que
misteriosamente caíram sobre o guarda enquanto ele passava pelo umbral. Com a
ajuda dos mais fortes, levantaram-na novamente e a prenderam com o pedaço de
tábua sobre o qual caminharam sob o abismo. Por fim, Pink conseguiu ouvir
estranhos sons bestiais e uma risada animalesca acima da muralha, mas infelizmente,
ao avisar seus colegas, nada conseguiram ver. Com certeza teria sido aquilo a
derrubar a grade sobre Calango.
O ambiente dentro das muralhas era
largado às plantas daninhas, à lama e à podridão. Os muros eram cobertos de
vinhas, uma boa parte do terreno se assemelhava a um pântano e o restante
estava desmoronado. Uma das torres à esquerda estava completamente em ruínas,
com seus escombros abaixo da colina; à direita uma enorme cratera exalava o
fedor medonho; paralelo à entrada havia uma torre intacta e de aspecto
ameaçador, com a porta entreaberta; uma pequena construção com a porta selada
se erguia à direita, próxima ao meio da muralha; e, por fim, um estranho poço
de pedras negras no centro do local.
O grupo decidiu explorar um pouco, com
Calango sempre tomando a frente. Primeiramente o líder se aproximou do poço,
mas ao ouvir sussurros profanos, sentiu um impulso de se jogar no buraco. Por
sorte tropeçou e saiu do transe, afastando e alertando seus colegas. Menino
Ney, o ex-mendigo, decidiu demonstrar suas habilidades. O jogador pediu
encarecidamente para eu deixar o personagem dele atacar usando bolas de
futebol. Estávamos em clima de copa e imaginei que seria engraçado, então
deixei (pra quem estiver curioso, as bolas causavam 1d4 de dano). Logo o Menino
Ney decidiu explorar a construção, usando suas bolas para destruir a tábua que
selava os portões. Após um sucesso, se aproximaram e puderam ver entalhes
bizarros nos portões de bronze, com imagens semelhantes a rostos demoníacos em
sofrimentos. Haviam ainda quatro gárgulas de sapos-demônios que pareciam
observar o grupo que, temeroso, resolveu atacá-las – no final das contas as
estátuas eram inofensivas.
Ao entrarem, encontraram uma sala
inteiramente queimada, carbonizada e cheia de marcas de fuligem no teto e nas
paredes. O local estava escuro, mas por sorte eles possuíam uma tocha – sim, só
uma! Ao acenderem, notaram seis esqueletos negros dispostos pelo chão e a
imagem de um sapo-demônio com a bocarra aberta, despejando
gotas de um líquido viscoso dentro de um balde pedra. Ao analisarem a gosma,
despertaram a terrível fera disforme que criava bolhas semelhantes a faces
demoníacas que nasciam e explodiam o tempo todo. O adestrador de pôneis foi o
primeiro a atacar, mas infelizmente teve seu animal mortalmente ferido por uma
lâmina de gosma criada pelo monstro, cuja ferida entrou em combustão em poucos
segundos após o contato!
O vigarista e o caçador tiveram uma
ótima ideia, mas que requereria uma boa dose sorte e extrema força física: usariam
seus mantos para cobrir a fera, efetivamente prendendo-a – mas para isso
tiveram de usar a força conjunta de três homens e um halfling. O líder usou seu
metro de linha que possuía para amarrar os panos. Infelizmente aqueles que
seguravam os mantos começaram a sentir que em breve seus tecidos entrariam em
combustão assim como o pônei… Com isso o curandeiro fez sua primeira aparição
útil e utilizou sua água benta para acalmar/paralisar a criatura, o que parece
ter funcionado. Restava agora saber o que fazer com o monstro antes que o mesmo
voltasse a se movimentar e escapasse! Hisoka teve a ideia de jogá-la na grande
cratera: e com isso a fera sumiu para sempre no buraco negro que havia em seu
centro. Uma tática louca, mas que acabou dando certo.
Menino Ney e o anão chamado Goblin
enquanto isso saqueavam os esqueletos, encontrando um incensário, três
incensos, maças, armaduras enferrujadas (mas que poderiam ser úteis) e um
mangual. Por conta da ganância do anão, o grupo cogitou livrar-se do mesmo, mas
a voz da razão os trouxe de volta ao objetivo: acabar com o mal que habitava o
forte e salvar os aldeões que estivessem vivos.
O jogador do adestrador quis incorporar
o personagem e ao mesmo tempo testar uma possibilidade. Tomado por uma tristeza
e sensação profunda de impotência pela morte de seu pônei Pé-de-Pano, Drago
aproximou-se do poço e decidiu jogar-se de lá. Seus companheiros não foram
velozes o suficiente e o deixaram escapar por suas mãos. Ao cair na escuridão
quase palpável do poço, Drago começou a ouvir sussurros aos ouvidos, que o
contavam segredos profanos. Vultos brancos começaram a rodeá-lo, enquanto um
enorme olho abriu-se logo abaixo do homem. Por fim, com a simples presença
daquele observador, o corpo de Drago tornou-se cinzas, sua alma unindo-se ao
coro infernal.
Sem tempo para se lamentaram por mais
um companheiro perdido, o bando teve uma curta discussão sobre o rumo que
deveriam tomar, até que todos concordaram em seguir até a torre. Aquela que
parecia ser a construção em melhor estado possuía uma aura estranha, como se
algo espreitasse logo após a porta entreaberta. Calango, impetuoso com sempre,
abriu a portão com um chutão, chamando a atenção do que quer que houvesse lá
dentro. Um cheiro de carniça invadiu as narinas do grupo, que viram pedaços de
carne humana e peles de animais caídas por sobre todo o chão da torre.
Correntes de metal pendiam do teto e sustentavam gaiolas nas quais estavam
enjaulados rostos conhecidos, aldeões que haviam sumido anteriormente. Enfim,
uma escada espiralada levava para o andar superior.
Mal deram alguns passos para dentro do
local, foram surpreendidos por sons bestiais, grunhidos de verdadeiras bestas
que saíam das sombras. O grupo agiu rápido e recuou para um lugar melhor
iluminado, correndo para fora da torre. Por sorte (e ajuda das armaduras velhas
que eles estavam vestindo), eles conseguiram correr sem se ferirem pelos
ataques de lanças dos homens-bestas, que eram humanoides com traços
ferais ou mutações ou deformidades. Ao todo eram sete criaturas, todas com
características bestiais: dois deformados sem mandíbulas; dois com as órbitas
oculares gigantes, mas vazias; um homem com escamas e olhos de lagarto; um
homem-lobo risonho; e um grande homem-touro portando um machado.
A luta foi cruel, mas os camponeses
tomaram cuidado e bolaram boas estratégias para separar o líder touro do
restante do bando, distraindo-o com as flechas do caçador Hisoka. A cena foi
recheada de falhas críticas por parte dos jogadores, o que os pôs em grande
perigo, mas por sorte apenas um dos personagens chegou a morrer, o curandeiro
religioso. O restante chegou perto, muito perto… Cada jogador decidiu focar
todos os seus personagens em um inimigo, o que rendeu cenas como a galinha
distraindo um inimigo enquanto o halfling saltava em suas costas. Logo que o
homem-touro caiu, o restante das bestas se debandou. Mas os camponeses estavam
com sangue nos olhos e não deixaram sequer um deles escapar, atacando com suas
espadas e arco.
Após a cansativa e sangrenta batalha, o
grupo mal descansou, logo adentrou a torre novamente e salvou os pobres
camponeses presos. Gon, um caçador amigo de Hisoka que havia sumido, também foi
encontrado lá e estava em estado magro e decrépito. Gon informou o grupo que os
camponeses sequestrados eram levados de tempos em tempos e retornavam como as
feras bestiais que habitavam o forte. Além disso, apontou para uma passagem que
o bando anteriormente não havia percebido. Um umbral escuro que levava ao
próximo cômodo daquele antro de maldição. Gon trataria de levar os
sobreviventes de volta à vila, enquanto grupo de personagens perseveraria em
sua fatídica missão de eliminar o mal ancestral daquele lugar. A cena final
mostrou o grupo adentrando o umbral e sumindo na escuridão…
Impressões
As primeiras batalhas com o sistema
serviram bem pra nos acostumarmos. As fichas dos monstros são incrivelmente
enxutas, devem ter no máximo umas duas ou três linhas de “mecânica” e os
combates são terrivelmente rápidos e mortais. A batalha contra as vinhas, por
exemplo, deve ter durado cerca de uns 10 minutos! Em 10 minutos de batalha em
D&D ou Tormenta, a gente não rola nem o primeiro turno…
Quando aldeões sem nada de especial
enfrentam monstros bizarros e criaturas ancestrais, não podem simplesmente valerem-se
de força ou espada. Eles tem de se espertos! O combate contra a fera-gosma teve
umas sacadas muito boas e a ideia maluca de prender o monstro ao enrolá-lo, que
foi fantástica! Meus jogadores costumam ter umas estratégias legais, mas até
hoje nada se compara com essa ideia louca. É bem legal do sistema incentivar o
jogador a bolar esses planos mirabolantes.
Meus jogadores curtiram muito essa
pegada de mistério, fantasia e principalmente a taxa de mortes durante a
aventura. Creio que isso torna tudo mais desafiador, uma vez que você sabe que,
em algum momento, seus personagens vão morrer. Aqui você luta pela
sobrevivência do maior número que você puder. Ao mesmo tempo, essa mortalidade
torna tudo mais satisfatório, pois, se você sobreviver ao encontro, o mérito é
todo seu: foi a sua astúcia, a sua sorte, a sua valentia.
Conclusão
Eu me diverti muito com essa sessão,
pois os personagens estavam divertidos e a aventura é muito boa, passa muito
bem o clima de mistério e fantasia que permeia DCC RPG. Durante a sessão
tivemos cinco mortes e alguns personagens que se destacaram do restante: o
guarda Calango, o caçador Hisoka, o ex-mendigo Ney, o fora-da-lei Pink e o
fazendeiro DJ. Se sobreviverem, com certeza serão eles a formar um grupo de
verdadeiros aventureiros
Já espero ansiosamente pela próxima
sessão, que infelizmente só vamos poder fazer mês que vem, pois temos nossa
campanha recorrente de Tormenta para jogar primeiro. Contudo, mais uns três
jogadores já pediram para participar também, então a próxima sessão vai ser bem
cheia de gente – e de mortes, mwahahahah!