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Espadachins & Feiticeiros: Cap. 1 - A Estranha Floresta de Beloferro

By : luh reynaud

Saudações, mercenários e aventureiros! Inspirado em contos de Espada & Feitiçaria e na nova campanha do Perdidos no PlayOuro & Glória –, resolvi rolar uma pequena série de aventuras que nomeei de Espadachins & Feiticeiros.

Espada & Feitiçaria (Sword & Sorcery no original) é um subgênero da fantasia que busca retratar elementos fantásticos de forma mais sombria, misteriosa e magnífica, numa era pós grandes civilizações, onde os povos tentam se reerguer e alguns poucos corajosos buscam seu lugar ao sol. Em crônicas desse gênero, os protagonistas são pessoas relativamente comuns, que contam apenas com seus músculos, astúcia e coragem para confrontar o desconhecido, conquistar tesouros e fama. Os aventureiros sofrem constantes conflitos do tipo eu contra o mundo, onde suas ambições costumam pesar mais na balança, caracterizando-os não como heróis, mas sim como sobreviventes.

Resolvi utilizar Mighty Blade III para estas aventuras, pois desejava testar o sistema numa campanha e apresentar aos meus jogadores. Embora não seja o sistema mais adaptado para a proposta, considerei não haver problemas em emular alguns elementos do gênero para o conjunto de regras. E por falar nos jogadores, apenas dois puderam se apresentar para a jogatina: um deles criou um levent espadachim e o outro, um tailox feiticeiro. Só consegui notar depois, mas se puderem perceber, as classes dos personagens representam cada um dos arquétipos de Espada & Feitiçaria! Os personagens ficaram bastante diferentes do convencional do meu grupo e nomenclatura baseada no Brasil Colonial (roubei essa idéia da campanha Ouro & Glória) só ajudou a criar esse clima de jogo diferenciado.


Encontro em Beloferro

Nas primeiras cenas houve a apresentação de Beloferro, uma pequenina vila longe das rotas comerciais e das grandes cidades. Os moradores locais eram acostumados à idéia de nascer, crescer e morrer sem nunca ter conhecido o mundo lá fora, uma vez que os ermos são extremamente perigosos.

Nesse contexto, Serafim, um humanóide alado, caminhava entre as ruas do centro em busca de comida. Era um verdadeiro sobrevivente, vivendo nas matas ao redor da vila desde que fora expulso de sua tribo, visitando a comunidade apenas quando necessário. À sua espreita, desejando sua bolsa de moedas, o sagaz Joaquim seguia o alvo furtivamente, se misturando aos aldeões ao redor. O homem-raposa era figura conhecida local tanto por seus inúmeros furtos, quanto por seu carisma instigante.

Ambos ouviram alguns boatos acerca da mina que recentemente fora abandonada e rumores sobre uma lendária torre repleta de jóias e guardam as informações na mente. Para homens ambiciosos, aquelas poderiam ser oportunidades de ouro...

Após uma tentativa falha de furto ao fingir esbarrar em Serafim, Joaquim se viu obrigado a se afastar – ao menos por enquanto –, pois o homem-alado estava desconfiado... Serafim em seguida foi abordado por uma moça que estranhamente alegava que o mesmo possuía uma semelhança sobrenatural com seu marido desaparecido. Curioso, o rapaz segue a mulher, indagando sobre o caso. O marido em questão era um minerador e havia desaparecido na mina próxima há cerca de duas semanas. Serafim, apiedado e secretamente ansioso para demonstrar sua coragem, prometeu investigar sobre o caso e voltar com respostas.

  • Começar sessões é sempre um desafio. Começar a sessão de uma campanha nova e de um estilo diferente, mais ainda! Sem planejar nada de background ou coisa do tipo, iniciamos a jogatina. O Serafim ficou bem arrogante e boçal, o Joaquim é mais astuto e malandro. Eu curti.



Madame Lalaurie e a substituição do destino

Joaquim pensava numa nova forma de roubar o homem-alado, quando foi chamado pelo pequeno Pedro, uma criança que pedia por ajuda, pois seu lagarto de estimação sumira e o mesmo não conseguia encontrá-lo. Guiado pelo pequeno, Joaquim acabou adentrando numa casa abandonada, cheia de móveis velhos e empoeirados – sozinho, já que a criança tinha medo.

Para sua surpresa, ao atravessar alguns cômodos, o homem-raposa deu de cara com uma sala enfeitada com lindos véus e objeto cintilantes, onde, logo atrás de uma mesa com entalhes bem trabalhados, residia uma velha senhora. De pele negra, cabelos trançados e um tapa-olho cobrindo o olho direito, a anciã observava uma espécie de esfera de cristal enquanto acariciava o lagarto procurado. O rapaz se viu assustado ao mesmo tempo em que admirado... Principalmente quando a anciã o chamou pelo nome.

Atuando como uma espécie de vidente, ela se apresentou como Madame Lalaurie, e se dispôs a ler a sorte de Joaquim, que se revelou terrível. Ao procurar pela torre das lendas, Joaquim indubitavelmente morreria, ao menos que encontrasse outra vida que perecesse em seu lugar. Por fim, a velha cobrou seu preço: um pedaço da alma do rapaz que, ao perdê-la, tornar-se-ia incapaz de sonhar! Aceitando a proposta e amedrontado pelo que a senhora poderia fazer, ele cedeu uma parte de seu espírito, caindo na inconsciência em seguida.

Joaquim acordou alguns minutos depois, de pé em frente à casa, segurando o lagarto do pequeno garotinho. Perplexo, ele começou a pensar sobre o ocorrido... Era uma oportunidade arriscada, mas ele não iria perdê-la! Iria encontrar alguém para morrer em seu lugar. E já tinha uma idéia de quem poderia ser...

  • Essa cena foi puro, puro, puro improviso. Eu queria montar algo legal pro Joaquim, pra que ele não ficasse meio avulso na história. Quando pensei em algo místico, esse encontro me veio em mente e, modéstia à parte, foi genial.



Sobre o caso das minas

Tal como um pássaro empolgado ao aprender a voar, Serafim ansiava por demonstrar sua bravura àquele povo pacato de Beloferro. Para ele, todos eram inferiores por não possuírem a capacidade de viajar pelos céus e deveriam agraciá-lo por seu par de asas. Com esse sentimento, abriu voo e buscou o responsável local para maiores informações sobre o caso das minas. Joaquim, que distante conseguiu observar o voo do homem-alado, o seguiu. Com certeza, ele seria uma boa companhia em busca da torre.

Serafim foi recebido por três cidadãos sumariamente armados com garfos de feno e partes desencontradas de armaduras, apenas um deles, tratado como capitão da guarda, portava uma espada e trajes de melhor qualidade. O prefeito se encontrava atrás dos soldados e já esperava pela vinda do rapaz: as notícias corriam naquela pequena vila.

Ao ser indagado, o prefeito relutou, mas vendo que o homem parecia intimidador e um melhor espadachim que seus soldados, falou tudo que sabia sobre a situação. A raposa ladra, que chegou durante a conversa, foi reconhecida por Serafim e acusada de tentar furtá-lo, mas por fim acabou podendo ouvir o caso com a promessa de realizar algo sobre o mesmo.

A vila de Beloferro sobrevivia a partir da mineração de ferro de uma mina local e a forja de materiais simples, contudo há alguns meses alguns mineradores sumiram durante o trabalho. Os casos vieram se repetindo, até que os trabalhadores passaram a se negar a continuar. Em silêncio, se recolheram à suas casas e nada falaram sobre o assunto. Há poucos dias, todos foram vistos saindo do vilarejo, deslocando-se para outra localidade. Os soldados enviados para investigar as minas não mais voltaram. Tudo sobre os eventos recentes na mina permaneciam um mistério...

Com base nisso, Serafim, seguido por Joaquim, deram as costas e rumaram para fora da cidadezinha. O rapaz-alado, com certa arrogância disse ao prefeito que iria resolver aquele caso. Já o homem-raposa, secretamente interessado na força do rapaz, pediu para acompanhá-lo na jornada, sob o pretexto de também possuir veia heróica. Ambos firmaram esse acordo e seguiram à taverna, buscando recursos e mantimentos para viagem, ouvindo no local uma interessante canção sobre uma torre feita de pura esmeralda...

  • ·   Aqui veio o primeiro problema advindo da arrogância de Serafim: a quebra do estranhamento e da vida pacata de uma pequena vila no meio do nada. Um cara voando do nada. Pensei seriamente em porque não vetei essa raça pra campanha. Bem, acho que foi o jogador que não pensou direito na hora, mas tudo bem, vida que segue.



Eventos estranhos

No dia seguinte, partiram à mina. Escolheram o caminho entre a floresta, uma vez que Serafim possuía ótimas capacidades de se guiar na mesma. Primeiramente encontraram dificuldades em seguir viagem juntos, pois o homem-alado se recusava a andar, contudo após enfrentarem dificuldades de compatibilidade, firmaram um acordo.

Com seus olhos de águia, o rapaz-pássaro buscou observar a quase um quilômetro na trilha à frente, e viu uma árvore caindo. Julgando que eram lenhadores, continuou seu caminho. Joaquim tentava buscar rastros que ajudassem a encontrar a trilha que levava à mina, porém seus parcos conhecimentos em rastreio eram ineficientes na tarefa.

De repente um estranho objeto no céu chamou a atenção dos viajantes: uma espécie de círculo metálico que dançava entre as nuvens. Serafim tentou averiguar, mas não conseguiu subir alto o bastante, apenas pode observar o objeto voar tão alto ao ponto de sumir. Enquanto isso, abaixo, Joaquim deitava-se na relva e pensava sobre tudo o que poderia enfrentar. Para ele, nada disso importava, apenas a chance de obter tesouros inimagináveis!

Quando Serafim voltou, estava assustado e admirado com o ocorrido, mas o homem-raposa insistiu para que prosseguissem sem demora. Após algum tempo, encontraram uma trilha – já abandonada há algumas semanas – e a seguiram. Ao perderem-se, depararam-se com uma visão inusitada, uma árvore velha e retorcida, carregada de objetos que pendiam por cordas amarradas em seus galhos. Eram desde caixas a espadas enferrujadas. Os aventureiros estavam temerosos pelo que poderia ser, mas logo foram convencidos por sua ganância a roubarem itens da árvore, e com isso obtiveram uma espada, uma bolsa com algum ouro e outros itens simples. O que eles não sabiam era que a planta em sua frente se tratava da encarnação de uma entidade da floresta que cobrava pedágio dos viajantes – e castigava aqueles que furtassem suas oferendas.

A viagem a seguir foi difícil, mesmo que não soubessem, irritaram a entidade que se abrigava no corpo do tronco que anteriormente roubaram, incitando dificuldades no trajeto para os dois. Uma chuva forte, perda da trilha, a floresta que parecia se fechar... O guia da dupla arranjou um abrigo improvisado abaixo do tronco que ele havia visto ser derrubado mais cedo, onde puderam ter sua refeição tranquila.

O caminho seguiu da mesma forma, dificultoso, por horas a fio. Caminhavam a esmo, mesmo com as boas capacidades de sobrevivência na floresta do homem-águia. Contudo, com a ajuda do faro e intuição de Joaquim, ambos conseguiram retornar à trilha. Porém, já se iniciava o crepúsculo.

  • ·   Um OVNI no meio de uma campanha medieval porque sim. Eu achei muito legal porque trouxe muito estranhamento (e me dá umas idéias pro futuro rsrs). Todos os eventos ocorridos eu tirei aleatoriamente de umas tabelas do Pontos de Experiência, créditos ao autor!


No encalço da grotesca criatura

A estranha demora ao através o curto percurso da floresta de Beloferro permanecia um mistério para os dois rapazes. Mal sabiam que a própria vegetação se irritara com os mesmos e cedia seu castigo! Contudo o pior carrasco se tratava da noite que vinha – e com ela um ser grotesco e abominável.

Com o crepúsculo ambos ouviram estranhos grunhidos, rugidos de uma criatura feroz e com uma análise mais apurada, perceberam que se tratava de uma bizarra criatura, tão grotesca como suas mentes sequer um dia cogitaram existir: um corpo maciço envolto em escamas grossas, membros roliços e potentes, um enorme globo ocular acima do tronco e uma bocarra faminta localizada na região do estômago. Com um urro aterrador, punha medo no coração dos viajantes, contudo não em Serafim, que desejava mostrar sua bravura “vamos atacá-lo”, gritou a Joaquim.

Temeroso, mas seguindo a sugestão de seu companheiro, o homem-raposa partiu ao ataque. A besta furiosa derrubava árvores com seu caminhar, parecendo incomodada com algo que a causava dor. Os guerreiros incautos sequer tentaram esconder sua presença, partindo num insano ataque direto e frontal. Talvez pelo impulso da jovialidade e uma nova vida de glória ao caçar monstros desconhecidos os cedeu excesso de confiança. E isso podia os levar a morte.

O ser – que passou a ser chamado pela dupla de “olho-de-lua” – revelou a fonte de sua irritação, um besouro parasita monstruoso e enorme. Olho-de-lua, irado, conseguiu alcançá-lo enquanto preso em seu corpo e esmagou-o com suas garras fortes. Agora a atenção voltava-se aos tolos que tentassem enfrentá-lo! Demonstrando ser incrivelmente poderoso e resistente, o monstro resistiu aos golpes sagazes de Joaquim e sequer deixava Serafim aproximar-se, exalando sua aura fétida e podre de carniça. Os guerreiros escapavam da ameaça da grande bocarra da criatura, mas deixavam-se ser atacados pelas garras pesadas e fortes. Com suas parcas forças, viram que não eram páreo para tal vil aberração e tomaram a mais sábia decisão da noite: fugir.

Joaquim foi o primeiro a saltar para longe enquanto o homem-alado tentava persistir nos ataques. Depois de ser extremamente ferido e observar que a criatura permanecia intacta, seguiu seu companheiro. Num golpe de sorte e por excesso de adrenalina, Serafim voou tão rápido como pode e tão logo o rapaz-raposa saltou em suas costas, fugiu para longe da ameaça.

Fatigados, feridos e com o orgulho machucado, tiveram de encontrar um local seguro para passar a noite. Não podiam arriscar seguir trilha com um monstro como aquele à solta! Logo, sob a espreita da terrível aberração, adormeceram de cansaço. Para Joaquim, um sono sem sonhar; para Serafim, sonhos repletos de desgraça e medo. Logo descobririam o fim dos que ousam ser corajosos num mundo em que a sobrevivência é a lei.

  • Essa foi a primeira vez que vi jogadores tão empolgados por fugirem de um monstro e, cara, isso foi muito legal. Ah, ganha 1000 xp quem adivinhar de onde eu tirei a inspiração pro “olho-de-lua”!




Essa foi a primeira sessão dessa minha micro-mesa. Planejo mais umas duas ou três sessões, dependendo de como os jogadores reagirem e do tempo, mas estou gostando bastante desse estilo, meus jogadores amaram! E vocês, já jogaram algo do tipo? O que acharam? Comentem aí!

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