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- Espadachins & Feiticeiros: Cap. 1 - A Estranha Floresta de Beloferro
Posted by : luh reynaud
quinta-feira, 12 de outubro de 2017
Saudações,
mercenários e aventureiros! Inspirado em contos de Espada & Feitiçaria e na
nova campanha do Perdidos no Play – Ouro & Glória –, resolvi rolar uma pequena série
de aventuras que nomeei de Espadachins
& Feiticeiros.
Espada &
Feitiçaria (Sword & Sorcery no original) é um subgênero da fantasia que
busca retratar elementos fantásticos de forma mais sombria, misteriosa e
magnífica, numa era pós grandes civilizações, onde os povos tentam se reerguer
e alguns poucos corajosos buscam seu lugar ao sol. Em crônicas desse gênero, os
protagonistas são pessoas relativamente comuns, que contam apenas com seus
músculos, astúcia e coragem para confrontar o desconhecido, conquistar tesouros
e fama. Os aventureiros sofrem constantes conflitos do tipo eu contra o mundo, onde suas ambições
costumam pesar mais na balança, caracterizando-os não como heróis, mas sim como
sobreviventes.
Resolvi utilizar Mighty Blade III para estas aventuras, pois desejava
testar o sistema numa campanha e apresentar aos meus jogadores. Embora não seja
o sistema mais adaptado para a proposta, considerei não haver problemas em
emular alguns elementos do gênero para o conjunto de regras. E por falar nos
jogadores, apenas dois puderam se apresentar para a jogatina: um deles criou um
levent espadachim e o outro, um tailox feiticeiro. Só consegui notar depois,
mas se puderem perceber, as classes dos personagens representam cada um dos
arquétipos de Espada & Feitiçaria! Os personagens ficaram bastante
diferentes do convencional do meu grupo e nomenclatura baseada no Brasil
Colonial (roubei essa idéia da campanha Ouro & Glória) só ajudou a criar
esse clima de jogo diferenciado.
Encontro
em Beloferro
Nas primeiras cenas houve
a apresentação de Beloferro, uma pequenina vila
longe das rotas comerciais e das grandes cidades. Os moradores locais eram
acostumados à idéia de nascer, crescer e morrer sem nunca ter conhecido o mundo
lá fora, uma vez que os ermos são extremamente perigosos.
Nesse contexto,
Serafim, um humanóide alado, caminhava entre as ruas do centro em busca de
comida. Era um verdadeiro sobrevivente, vivendo nas matas ao redor da vila
desde que fora expulso de sua tribo, visitando a comunidade apenas quando necessário.
À sua espreita, desejando sua bolsa de moedas, o sagaz Joaquim seguia o alvo
furtivamente, se misturando aos aldeões ao redor. O homem-raposa era figura
conhecida local tanto por seus inúmeros furtos, quanto por seu carisma
instigante.
Ambos ouviram alguns
boatos acerca da mina que recentemente fora abandonada e rumores sobre uma
lendária torre repleta de jóias e guardam as informações na mente. Para homens
ambiciosos, aquelas poderiam ser oportunidades de ouro...
Após uma tentativa
falha de furto ao fingir esbarrar em Serafim, Joaquim se viu obrigado a se
afastar – ao menos por enquanto –, pois o homem-alado estava desconfiado...
Serafim em seguida foi abordado por uma moça que estranhamente alegava que o
mesmo possuía uma semelhança sobrenatural com seu marido desaparecido. Curioso,
o rapaz segue a mulher, indagando sobre o caso. O marido em questão era um
minerador e havia desaparecido na mina próxima há cerca de duas semanas.
Serafim, apiedado e secretamente ansioso para demonstrar sua coragem, prometeu
investigar sobre o caso e voltar com respostas.
- Começar sessões é sempre um desafio. Começar a sessão de uma campanha nova e de um estilo diferente, mais ainda! Sem planejar nada de background ou coisa do tipo, iniciamos a jogatina. O Serafim ficou bem arrogante e boçal, o Joaquim é mais astuto e malandro. Eu curti.
Madame
Lalaurie e a substituição do destino
Joaquim pensava numa
nova forma de roubar o homem-alado, quando foi chamado pelo pequeno Pedro, uma
criança que pedia por ajuda, pois seu lagarto de estimação sumira e o mesmo não
conseguia encontrá-lo. Guiado pelo pequeno, Joaquim acabou adentrando numa casa
abandonada, cheia de móveis velhos e empoeirados – sozinho, já que a criança
tinha medo.
Para sua surpresa, ao
atravessar alguns cômodos, o homem-raposa deu de cara com uma sala enfeitada
com lindos véus e objeto cintilantes, onde, logo atrás de uma mesa com entalhes
bem trabalhados, residia uma velha senhora. De pele negra, cabelos trançados e
um tapa-olho cobrindo o olho direito, a anciã observava uma espécie de esfera
de cristal enquanto acariciava o lagarto procurado. O rapaz se viu assustado ao
mesmo tempo em que admirado... Principalmente quando a anciã o chamou pelo
nome.
Atuando como uma
espécie de vidente, ela se apresentou como Madame Lalaurie, e se dispôs a ler a
sorte de Joaquim, que se revelou terrível. Ao procurar pela torre das lendas, Joaquim
indubitavelmente morreria, ao menos que encontrasse outra vida que perecesse em
seu lugar. Por fim, a velha cobrou seu preço: um pedaço da alma do rapaz que,
ao perdê-la, tornar-se-ia incapaz de sonhar! Aceitando a proposta e amedrontado
pelo que a senhora poderia fazer, ele cedeu uma parte de seu espírito, caindo
na inconsciência em seguida.
Joaquim acordou
alguns minutos depois, de pé em frente à casa, segurando o lagarto do pequeno
garotinho. Perplexo, ele começou a pensar sobre o ocorrido... Era uma
oportunidade arriscada, mas ele não iria perdê-la! Iria encontrar alguém para
morrer em seu lugar. E já tinha uma idéia de quem poderia ser...
- Essa cena foi puro, puro, puro improviso. Eu queria montar algo legal pro Joaquim, pra que ele não ficasse meio avulso na história. Quando pensei em algo místico, esse encontro me veio em mente e, modéstia à parte, foi genial.
Sobre
o caso das minas
Tal como um pássaro
empolgado ao aprender a voar, Serafim ansiava por demonstrar sua bravura àquele
povo pacato de Beloferro. Para ele, todos eram inferiores por não possuírem a
capacidade de viajar pelos céus e deveriam agraciá-lo por seu par de asas. Com
esse sentimento, abriu voo e buscou o responsável local para maiores
informações sobre o caso das minas. Joaquim, que distante conseguiu observar o
voo do homem-alado, o seguiu. Com certeza, ele seria uma boa companhia em busca
da torre.
Serafim foi recebido
por três cidadãos sumariamente armados com garfos de feno e partes
desencontradas de armaduras, apenas um deles, tratado como capitão da guarda,
portava uma espada e trajes de melhor qualidade. O prefeito se encontrava atrás
dos soldados e já esperava pela vinda do rapaz: as notícias corriam naquela
pequena vila.
Ao ser indagado, o
prefeito relutou, mas vendo que o homem parecia intimidador e um melhor
espadachim que seus soldados, falou tudo que sabia sobre a situação. A raposa
ladra, que chegou durante a conversa, foi reconhecida por Serafim e acusada de
tentar furtá-lo, mas por fim acabou podendo ouvir o caso com a promessa de
realizar algo sobre o mesmo.
A vila de Beloferro
sobrevivia a partir da mineração de ferro de uma mina local e a forja de materiais
simples, contudo há alguns meses alguns mineradores sumiram durante o trabalho.
Os casos vieram se repetindo, até que os trabalhadores passaram a se negar a
continuar. Em silêncio, se recolheram à suas casas e nada falaram sobre o
assunto. Há poucos dias, todos foram vistos saindo do vilarejo, deslocando-se
para outra localidade. Os soldados enviados para investigar as minas não mais
voltaram. Tudo sobre os eventos recentes na mina permaneciam um mistério...
Com base nisso,
Serafim, seguido por Joaquim, deram as costas e rumaram para fora da
cidadezinha. O rapaz-alado, com certa arrogância disse ao prefeito que iria
resolver aquele caso. Já o homem-raposa, secretamente interessado na força do
rapaz, pediu para acompanhá-lo na jornada, sob o pretexto de também possuir
veia heróica. Ambos firmaram esse acordo e seguiram à taverna, buscando
recursos e mantimentos para viagem, ouvindo no local uma interessante canção
sobre uma torre feita de pura esmeralda...
- · Aqui veio o primeiro problema advindo da arrogância de Serafim: a quebra do estranhamento e da vida pacata de uma pequena vila no meio do nada. Um cara voando do nada. Pensei seriamente em porque não vetei essa raça pra campanha. Bem, acho que foi o jogador que não pensou direito na hora, mas tudo bem, vida que segue.
Eventos
estranhos
No dia seguinte,
partiram à mina. Escolheram o caminho entre a floresta, uma vez que Serafim
possuía ótimas capacidades de se guiar na mesma. Primeiramente encontraram
dificuldades em seguir viagem juntos, pois o homem-alado se recusava a andar,
contudo após enfrentarem dificuldades de compatibilidade, firmaram um acordo.
Com seus olhos de
águia, o rapaz-pássaro buscou observar a quase um quilômetro na trilha à
frente, e viu uma árvore caindo. Julgando que eram lenhadores, continuou seu
caminho. Joaquim tentava buscar rastros que ajudassem a encontrar a trilha que
levava à mina, porém seus parcos conhecimentos em rastreio eram ineficientes na
tarefa.
De repente um
estranho objeto no céu chamou a atenção dos viajantes: uma espécie de círculo
metálico que dançava entre as nuvens. Serafim tentou averiguar, mas não
conseguiu subir alto o bastante, apenas pode observar o objeto voar tão alto ao
ponto de sumir. Enquanto isso, abaixo, Joaquim deitava-se na relva e pensava
sobre tudo o que poderia enfrentar. Para ele, nada disso importava, apenas a
chance de obter tesouros inimagináveis!
Quando Serafim
voltou, estava assustado e admirado com o ocorrido, mas o homem-raposa insistiu
para que prosseguissem sem demora. Após algum tempo, encontraram uma trilha – já
abandonada há algumas semanas – e a seguiram. Ao perderem-se, depararam-se com
uma visão inusitada, uma árvore velha e retorcida, carregada de objetos que
pendiam por cordas amarradas em seus galhos. Eram desde caixas a espadas
enferrujadas. Os aventureiros estavam temerosos pelo que poderia ser, mas logo
foram convencidos por sua ganância a roubarem itens da árvore, e com isso
obtiveram uma espada, uma bolsa com algum ouro e outros itens simples. O que
eles não sabiam era que a planta em sua frente se tratava da encarnação de uma
entidade da floresta que cobrava pedágio dos viajantes – e castigava aqueles
que furtassem suas oferendas.
A viagem a seguir foi
difícil, mesmo que não soubessem, irritaram a entidade que se abrigava no corpo
do tronco que anteriormente roubaram, incitando dificuldades no trajeto para os
dois. Uma chuva forte, perda da trilha, a floresta que parecia se fechar... O
guia da dupla arranjou um abrigo improvisado abaixo do tronco que ele havia
visto ser derrubado mais cedo, onde puderam ter sua refeição tranquila.
O caminho seguiu da
mesma forma, dificultoso, por horas a fio. Caminhavam a esmo, mesmo com as boas
capacidades de sobrevivência na floresta do homem-águia. Contudo, com a ajuda
do faro e intuição de Joaquim, ambos conseguiram retornar à trilha. Porém, já
se iniciava o crepúsculo.
- · Um OVNI no meio de uma campanha medieval porque sim. Eu achei muito legal porque trouxe muito estranhamento (e me dá umas idéias pro futuro rsrs). Todos os eventos ocorridos eu tirei aleatoriamente de umas tabelas do Pontos de Experiência, créditos ao autor!
No
encalço da grotesca criatura
A estranha demora ao
através o curto percurso da floresta de Beloferro permanecia um mistério para
os dois rapazes. Mal sabiam que a própria vegetação se irritara com os mesmos e
cedia seu castigo! Contudo o pior carrasco se tratava da noite que vinha – e
com ela um ser grotesco e abominável.
Com o crepúsculo
ambos ouviram estranhos grunhidos, rugidos de uma criatura feroz e com uma
análise mais apurada, perceberam que se tratava de uma bizarra criatura, tão
grotesca como suas mentes sequer um dia cogitaram existir: um corpo maciço
envolto em escamas grossas, membros roliços e potentes, um enorme globo ocular
acima do tronco e uma bocarra faminta localizada na região do estômago. Com um
urro aterrador, punha medo no coração dos viajantes, contudo não em Serafim,
que desejava mostrar sua bravura “vamos atacá-lo”, gritou a Joaquim.
Temeroso, mas
seguindo a sugestão de seu companheiro, o homem-raposa partiu ao ataque. A
besta furiosa derrubava árvores com seu caminhar, parecendo incomodada com algo
que a causava dor. Os guerreiros incautos sequer tentaram esconder sua
presença, partindo num insano ataque direto e frontal. Talvez pelo impulso da
jovialidade e uma nova vida de glória ao caçar monstros desconhecidos os cedeu
excesso de confiança. E isso podia os levar a morte.
O ser – que passou a
ser chamado pela dupla de “olho-de-lua” – revelou a fonte de sua irritação, um
besouro parasita monstruoso e enorme. Olho-de-lua, irado, conseguiu alcançá-lo
enquanto preso em seu corpo e esmagou-o com suas garras fortes. Agora a atenção
voltava-se aos tolos que tentassem enfrentá-lo! Demonstrando ser incrivelmente
poderoso e resistente, o monstro resistiu aos golpes sagazes de Joaquim e
sequer deixava Serafim aproximar-se, exalando sua aura fétida e podre de
carniça. Os guerreiros escapavam da ameaça da grande bocarra da criatura, mas
deixavam-se ser atacados pelas garras pesadas e fortes. Com suas parcas forças,
viram que não eram páreo para tal vil aberração e tomaram a mais sábia decisão
da noite: fugir.
Joaquim foi o
primeiro a saltar para longe enquanto o homem-alado tentava persistir nos
ataques. Depois de ser extremamente ferido e observar que a criatura permanecia
intacta, seguiu seu companheiro. Num golpe de sorte e por excesso de
adrenalina, Serafim voou tão rápido como pode e tão logo o rapaz-raposa saltou
em suas costas, fugiu para longe da ameaça.
Fatigados, feridos e
com o orgulho machucado, tiveram de encontrar um local seguro para passar a
noite. Não podiam arriscar seguir trilha com um monstro como aquele à solta!
Logo, sob a espreita da terrível aberração, adormeceram de cansaço. Para
Joaquim, um sono sem sonhar; para Serafim, sonhos repletos de desgraça e medo. Logo
descobririam o fim dos que ousam ser corajosos num mundo em que a sobrevivência
é a lei.
- Essa foi a primeira vez que vi jogadores tão empolgados por fugirem de um monstro e, cara, isso foi muito legal. Ah, ganha 1000 xp quem adivinhar de onde eu tirei a inspiração pro “olho-de-lua”!
Essa foi a primeira
sessão dessa minha micro-mesa. Planejo mais umas duas ou três sessões,
dependendo de como os jogadores reagirem e do tempo, mas estou gostando bastante
desse estilo, meus jogadores amaram! E vocês, já jogaram algo do tipo? O que
acharam? Comentem aí!