Como Descrever uma Bifurcação em uma Masmorra?

Arte por John Blanche.

Suponha que você esteja atravessando o corredor de uma masmorra e dê de cara com uma bifurcação, a partir da qual dois caminhos seguem: um para a direita e o outro para a esquerda. A Mestra não lhe dá informação adicional alguma sobre suas opções, logo, você decide seguir, sei lá, o caminho da esquerda. Na prática, foi um chute — como se a Mestra tivesse jogado uma moeda. Uma escolha sem contexto não possui peso algum.

Diante de uma bifurcação, a Mestra deve trazer informações que atribuam valor à escolha dos jogadores, podendo se utilizar de ferramentas de antecipação de eventos vindouros. Uma poderosa ferramenta narrativa é o foreshadowing, que basicamente caracteriza pistas do que pode vir a ocorrer no futuro.

Caso, por exemplo, o grupo esteja explorando uma floresta e a Mestra decida que uma poderosa tempestade irá ocorrer, ela pode descrever nuvens escuras no horizonte como uma antecipação do que que há de vir. Com essa informação, jogadores atentos podem decidir buscar um abrigo ou arriscar uma travessia a tempo de cumprir seu objetivo. Isso agrega valor à escolha dos jogadores, tornando-a mais importante dentro da aventura.

Ainda, além de orientar escolhas, o foreshadowing também constrói tensão e atmosfera, agregando valor à narrativa e estimulando, de maneira mais intensa e/ou efetiva, a atenção dos jogadores.

Na ocorrência da bifurcação, a Mestra pode descrever pistas sutis do que espera os personagens no fim do corredor, de maneira que a decisão do caminho a seguir seja mais consciente.

Voltando ao exemplo inicial, digamos que o caminho da direita leve a uma gruta, enquanto o caminho da esquerda conduza à tumba de uma família nobre, agora habitada por fantasmas. Ao descrever a bifurcação, a Mestra pode informar, de maneira sutil, que o trajeto da direita possui o ar mais carregado e úmido, com um cheiro cavernoso percebido pelo personagem anão. Por outro lado, a segunda opção de caminho possui murais nas paredes representando figuras importantes que aparentam ser de uma casa nobre, mas que provocam um arrepio nos membros mais intuitivos do grupo.

Inimigos podem gerar barulho ou deixar rastros, caminhos que levem a câmaras de tesouro podem possuir uma moeda de ouro esquecida num canto, corredores com armadilhas podem possuir cadáveres estirados no chão são apenas alguns dos inúmeros exemplos possíveis.

As pistas podem ser ainda mais sutis, ou você pode conceder mais informações à medida que o grupo investiga a bifurcação, mas é importante contextualizar alguma coisa, qualquer coisa, para que a decisão possua qualquer relevância.

Embora eu tenha usado o contexto de uma bifurcação numa masmorra para a discussão, a técnica do foreshadowing pode ser utilizada dentro de qualquer situação da narrativa da aventura, e é uma maneira valiosa de agregar mais relevância à agência do jogador.

Em conclusão, o foreshadowing se apresenta não apenas como uma ferramenta estilística — é uma oportunidade que você dá ao seu grupo: a chance de fazer escolhas que realmente importem.

Referências

Como Você NUNCA Deve Descrever Uma Masmorra e Suas Passagens

O Que é Foreshadowing e Como Ele Pode Ser Usado nos Seus Textos?

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