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Arte por Stephen Fabian. |
Em nossa última sessão, a Trupe enfrentou os perigos malditos da Ferida
Estelar de Abaddon, onde criaturas de outro mundo rastejavam profanamente por
entre os ermos. Ao final de sua aventura, os personagens libertaram Abaddon da
escuridão que a encobria, desbloqueando todo um território novo a se explorar e
conquistar. No entanto, realizar essa tarefa não seria tarefa fácil, exigindo
muito mais exploração e aventuras.
Sobre as últimas sessões
Anteriormente acompanhamos a Trupe do Pacto, um grupo de aventureiros
mercenários de índole duvidosa, em sua busca por glória e ouro. Após serem
contatados por seus patronos e divindades acerca da ameaça das terras malditas
de Abaddon, os aventureiros exploram a região da Ferida Estelar, enfrentando os
perigos de uma dimensão obscura dominada pelo poderosíssimo Devorador de Almas:
uma entidade vinda das estrelas com fome por desespero e blasfêmia.
Confira o restante de nossas aventuras.
Os membros da Trupe
Ravena, sacerdotisa de Sezrekan, 6o nível; e Zelia, feiticeira vudu, 2o
nível [Gaby].
Maria Márcia, anã guerreira, 6o nível; e Dandara, ninfa feiticeira
estelar, 3o nível [Concita].
Pedro Joaquim, clérigo do deus-titã, 6o nível; e Gabiru (Zé Pedro), o
aprendiz de ladrão, 2o nível [Thigas].
Cabiludim (Lunga), guerreiro primitivo, 2o nível; e Cubensius, elfo
herbalista, 1o nível [Igor].
Lucca, ladra maliciosa, 4o nível. [Nathan].
Planejamento
Nossa sessão se iniciou na espelunca a qual foi reduzida a taverna e sede
da guilda Espada-de-São-Jorge, espremida entre dois casarões antigos num dos
bairros pobres da cidade-estado de Punjar. A taverna, cujo dono era o grisalho,
mas bem conservado Anector, era a sede de operações da já famosa Trupe do
Pacto, um grupo de aventureiros mal falados por seus hábitos de conduta,
digamos, duvidosa.
O grupo havia acabado de retornar de uma perigosa incursão à região da
Ferida Estelar de Abbadon – um lugar maldito dominado por uma entidade
extraterrena – e a libertado do mal que lá habitava. Seus planos eram, agora,
conquistar a região, planejando reclamar para si as novas terras sem senhores.
Mas, pra isso, seriam necessários grande esforço e um bom investimento… Os
aventureiros começaram, então, a discutir sobre seus planos, incluindo o mestre
de guilda Anector, que seria um grande investidor, buscando para si um terreno
seguro e livre de impostos nas terras desconhecidas, uma vez que os negócios em
Punjar só iam de mal a pior.
A discussão tomou um bom tempo, mas, ao fim, os aventureiros mais
abastados entraram com um investimento de alguns milhares de moedas de ouro
para bancar a nova incursão e os gastos que teriam com a construção de uma
grande fortaleza no lugar, que seria o marco da grande cidade que planejavam
construir.
Mas é claro que tudo isso foi ao custo de muito bate-boca e avareza da
ladra Lucca, a mais rica e ao mesmo tempo mais mão-de-vaca de toda a Trupe.
Enquanto isso, combinaram que Cabiludim iria chamar sua tribo de antehumanos
para fazer uma nova aldeia nos arredores da região e Maria Márcia chamaria seus
primos e irmãos de sua família de anões construtores para ajudar na fortaleza
que planejavam construir.
Anector gostou dos parâmetros propostos e concordou em ceder uma boa
quantia de moedas de ouro também, bancando, ainda, alguns equipamentos que eles
poderiam precisar em seus desbravamentos das novas terras. Com isso, todos
juntos compraram mantimentos, juntaram suas coisas e partiram mais uma vez em
direção à região de Abbadon.
Sua travessia tomou pouco mais de duas semanas, contudo foi tranquila,
sem quaisquer perigos ou obstáculos no caminho. Mas é claro que as coisas não
seriam tão fáceis quando entrassem em Abaddon.
A criatura nas colinas
A Ferida Estelar em quase nada se parecia com a imagem anterior de
desolação e morte causada pelo Devorador de Almas, com seus campos áridos e
desertos de cinzas. A paisagem agora se mostrava com colinas verdejantes e
bastante vegetação, montanhas altas no horizonte, cercando a região como muralhas.
Rios e lagos completavam a visão agradável e propícia pra fundação de um novo
domínio.
Perguntei aos jogadores em qual direção a Trupe marcharia e qual seria
seu plano de conquista das terras a serem desbravadas, o que os obrigou a parar
um pouco pra discutir e pensar, decidindo que seu primeiro feito seria
construir uma fortaleza num local alto e imponente. Explorar as colinas seria
um bom começo.
Enquanto conversavam no sopé das colinas, puderam notar um movimento
estranho dentre a vegetação, seguido por grunhidos do que só poderiam ter vindo
de um animal selvagem.
Pedro, que foi o único a ter coragem de investigar a presença da
criatura, descobriu que aquilo não era o que imaginavam, mas sim um tipo de
monstro humanoide quadrúpede, que rugia e exibia suas presas raivosas como um
felino. O monstro, que era musculoso e aparentava não ter pele cobrindo seu
corpo cinzento, saltou rumo ao druida, golpeando-o com suas garras pontiagudas
e sua cauda de escorpião, causando ferimentos perigosos carregados de veneno.
Apesar de tudo, Pedro já era um aventureiro muito experiente e conseguiu se
manter de pé diante da besta.
O monstro sabia que estava em menor número, logo preferiu recuar a
permanecer num ataque frontal. Mas é claro que a Trupe não iria deixar barato.
Ravena argumentou que aquilo poderia causar mais problemas depois e liderou os
mercenários a se embrenharem na floresta da colina em busca do bichão.
Pedro guiava dentre a mata quando Zelia apontou um cadáver com um dos
flancos partido, que logo Ravena tratou de verificar que como um cadáver
fresco, certamente um rastro do ataque do monstro bizarro que buscavam. Mas
quem era aquele homem e o que ele fazia no meio da região inexplorada? Bem,
como mortos não falam, não haveria como saber… Não é?
Talvez aquilo não fosse verdade para Ravena, que conjurou os poderes de
sua entidade Sezrekan para reanimar o corpo morto. Sua conjuração, entretanto,
não foi o suficiente para conversar com o falecido, mas ao menos ela havia
conseguido um servo morto-vivo totalmente leal, que logo ordenou que buscasse
por vingança, ajudando-os a caçar o monstro assassino. O zumbi se levantou com
agilidade e começou a saltar entre as árvores com suas duas adagas afiadas em
busca de seu carrasco.
Cubensius, o elfo que havia ajudado a Trupe durante a aventura da Ferida
Estelar, aproveitou o momento pra entoar cânticos de convocação de seu patrono
élfico solicitando suporte na empreitada que se metia. Desde a última aventura,
Cubensius havia estudado sua ancestralidade e despertado poderes arcanos
amparados por uma grande entidade feérica, da qual tentou conjurar uma visão do
futuro, mas que aparentemente não deu resultado. Enquanto isso, Lucca catou uma
das adagas que havia ficado pra trás, uma peça com cabo entalhado com motivos
de corvos, aquilo poderia ser uma adição interessante pra coleção da gananciosa
ladra.
Quando seguiram seu caminho, ainda no rastro da criatura, foram
surpreendidos com um laço que se fechou nas pernas do druida e o puxou para
cima subitamente, prendendo-o completamente e ativando um tipo de sineta
barulhenta – o que mostrou para os aventureiros que havia mais pessoas por ali
e que o cadáver que haviam encontrado há pouco provavelmente fazia parte de um
grupo… A ladra Lucca auxiliou seu companheiro a sair da armadilha para em
seguida procurar por mais arapucas que pudessem ferir o grupo. Averiguou que
tudo parecia seguro, mas, no primeiro passo que deu, uma daquelas armadilhas de
urso se fechou sobre sua perna, causando um ferimento profundo que lhe arrancou
um grito de dor.
Nesse momento, a cena inteira retrocedeu rapidamente, como se o tempo
caminhasse ao contrário sob os olhos de Cubensius, que retornou ao ponto no
qual havia conjurado sua premonição. O personagem havia sido mal-sucedido na
primeira tentativa, mas conseguiu um sucesso na conjuração quando tentou mais
uma vez, logo após o incidente de Lucca. Achei que seria legal fazer aquele
velho clichê de “era tudo uma visão!” e os jogadores gostaram da ideia (impediu
que os personagens caíssem nas armadilhas, então é claro que eles gostaram!).
Acampamento dos saqueadores
Após uma subida razoavelmente cansativa por entre as colinas, os
aventureiros da Trupe do Pacto deram de cara com um barranco íngreme cujo topo
era protegido pelas ruínas de uma grande fortaleza de outrora. Como os
aventureiros não fizeram questão de serem silenciosos em sua caçada, narrei que
o líder do grupo que habitava o lugar surgiu, acompanhado de seu bando de
mercenários armados.
O homem barbudo se apresentou como Ulther Pena-Negra, o líder de um
conhecido bando de saqueadores de nome Corvos Gélidos, que explorava a região
com o objetivo de sediar um acampamento avançado de suas atividades ilegais. A
Trupe argumentava que tinham sido eles a livrarem a região do mal que lá
habitava, logo era deles o direito de tomar o domínio para si, porém os
bandidos eram irredutíveis, informando não se importar com o que era “justo” ou
não. Eram bandidos, ora, não seria a primeira vez a se aproveitarem de
aventureiros idiotas para fazer dinheiro fácil.
Pedro, Ravena e Anector não gostaram nada da história, e, uma vez que
Ulther se mostrava fortemente inclinado a expulsar os aventureiros dos
arredores de seu acampamento, decidiram atacar o inimigo com tudo que tinham. A
vantagem de terreno e numérica, contudo, estavam claramente a favor dos Corvos,
que se posicionaram com uma dúzia de homens armados com azagaias e duas pesadas
balestras de guerra. Enquanto isso, a subchefe dos ladrões se esgueirava por
entre as árvores mirando no pescoço de Gabiru, que tentava se esconder dos
múltiplos ataques.
Zelia e Dandara, as feiticeiras da Trupe, uniram seus poderes de modo a
conjurar rajadas prismáticas para atrapalhar a visão dos inimigos, o rendeu uma
boa cobertura durante algum tempo, protegendo os aliados da saraivada de
azagaias.
A proteção, entretanto, não durou para sempre e logo Ravena e Anector
foram atingidos por um disparo de balestra que explodiu em estilhaços, ferindo
o ex-aventureiro e arranhando sua esposa sacerdotisa. Pedro, enquanto isso, se
concentrava e entrava em comunhão com a energia ao seu redor, conjurando seus
poderes diabólicos de transfiguração em relâmpago, uma magia inerente que o
tornava um feixe de raios vivo. Seu poder logo foi posto à prova quando outro
espécime do monstro felino que caçavam saltou em sua direção, engalfinhando-se
numa briga corpo a corpo.
Lucca ativou seu sabre de energia negra para se unir às sombras e atacar
a subchefe furtivamente, somente para recuar logo em seguida, evitando se expor
a perigos (Lucca sempre foi uma das mais cautelosas do grupo). Dandara foi uma
das melhores combatentes da peleja, disparando vários espinhos através de sua
magia de mísseis mágicos e, inclusive, colocando o líder contra a parede várias
vezes. Numa dessas, o raivoso chefe convocou um ritual de transformação para se
transmutar num dos monstros que habitavam aquelas colinas, ameaçando a Trupe
com suas enormes e assustadoras garras e seu ferrão venenoso.
Apesar de intimidador, o bichão não durou muito tempo, logo sendo
explodido por um relâmpago potente conjurado por Pedro. O druida ainda tomou
uma das balestras e chamou por Cubensius para o ajudar a disparar na direção do
outro monstro de estimação dos bandidos, mas atingindo Gabiru no processo, que
teve de ser socorrido por Ravena para escapar milagrosamente da morte.
Cubensius também caiu uma vez, mas também foi socorrido rapidamente, o
que poupou sua vida de entrar no mundo dos mortos – na verdade, eu mesma, como
mestra, poupei a vida do elfo, já que nas minhas mesas de DCC nenhum elfo nunca
sobreviveu mais que duas sessões. Sei que isso não foi nada old school da
minha. Sim, eu dei uma forçadinha, mas tudo bem. Os jogadores entenderam e
concordaram que foi por um “bem maior”: quebrar a “maldição do elfo”.
A batalha não demorou muito a se encerrar. Apesar de alguns dos bandidos
terem tentado fugir, a maioria foi pega pela Trupe, que, sanguinária como
sempre, não os deixou escapar ilesos.
Exploraram o forte abandonado, aparentemente as ruínas de uma construção
muito antiga onde o bando de ladrões sediava seu grupo, equipamentos e saques.
Lucca desarmou algumas armadilhas enquanto Ravena cuidava dos feridos e encarou
uma cena na qual estranhou o quão resiliente era Anector.
Apesar de receber um tiro direto de balestra, o comerciante apresentava
apenas feridas superficiais. Os jogadores de Ravena e Pedro começaram a
discutir sobre Anector, comentando que ele poderia ser um perigo futuro, uma
vez que os conhecia bem demais e tinha segredos “suspeitos”. O NPC ainda
possuía uma grande fortuna, que eles poderiam saquear no momento certo… Mas
deixaram pra comentar sobre o plano futuramente, pois ele ainda poderia ser de
utilidade para eles na conquista das novas terras de Abaddon.
Interrompendo a conversa secreta dos dois, Lucca chamou atenção da Trupe
para uma visão interessante que tivera ao subir uma das torres das ruínas, uma
fortaleza aparentemente antiga acima de uma formação rochosa, se projetando
abaixo de nuvens escuras. Talvez aquela nova localidade pudesse conter mais
recursos para auxiliar na jornada da Trupe do Pacto.
Conclusão
Infelizmente, assim acaba nossa querida campanha de DCC RPG. Embora não
tenhamos rolado uma conclusão oficial, a Trupe do Pacto chegou ao fim. Após
isso, não conseguimos mais nos reunir novamente, pois alguns jogadores se
mudaram, outros perdi o contato e acabamos nunca mais conseguindo marcar. Uma
realidade que acontece com vários grupos.
Apesar de tudo, guardo nossas lembranças com muito carinho. As aventuras
de Ravena, Maria Márcia, Lucca e companhia foram inesquecíveis de tal forma que
estarão para sempre marcadas em minha memória.
Ahhh, o cara não sabia se morria ou ficava vivo kkkkk foi uma ótima sessão, não vejo a hora de jogar de novo!
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