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- Diário de Campanha DCC RPG Cap. 12 - As Bruxas Sussurrantes de Rahdomir
Posted by : luh reynaud
sábado, 21 de dezembro de 2019
Saudações,
caçadores de bruxas! Antes de irmos pro diário, vamos pra um
anúncio bem rápido? Não sei se vocês ficaram sabendo, mas
recentemente a licença de DCC no Brasil passou da New Order Editora
para a Sagen Editora. Existe uma boa perspectiva de mudança, uma vez
que a Sagen já trabalhou com produtos da Goodman Games (editora
gringa de DCC) anteriormente e é bem reconhecida pela qualidade do
material. Num anúncio oficial no facebook até começaram a liberar
algumas aventuras gratuitamente em pdf! Não sei quanto a vocês, mas
eu to bastante animado! Agora chega de conversa e vamos ao que
interessa!
Sobre
as Últimas Sessões
Anteriormente
acompanhamos a Trupe do Pacto, um grupo de aventureiros mercenários
de índole duvidosa, em sua jornada em busca de glória e ouro. Nos
últimos capítulos, os aventureiros chegaram à grandiosa
Cidade-Estado de Punjar, se aliaram a Anector, um importante mestre
de guilda, e aceitaram uma missão dada pelo Rei-Imperador. Ao
explorarem a floresta de Ispazar, enfrentaram as feras da
bruxa-lagarto e recuperaram o cristal que, segundo os boatos, faria
Punjar voltar a crescer farta e próspera. O grupo agora segue rumo a
Rahdomir, a cidade-fantasma destruída pelas “bruxas sussurrantes”,
em busca do lendário fruto do diabo.
Os
Personagens
Arthur
Autista – Gibrin, anão lanceiro em incessante busca por poder; e
Goblin, o anão possuidor do misterioso sabre de energia negra.
Thiago
Thigas – Jorge, o mercenário atirador com transtornos de
personalidade; e Pedro Joaquim II, ex-lenhador que cultua ao
deus-titã das florestas.
Concita
Cabelão – Maria Márcia, anã vaidosa que enfrenta masmorras
usando salto e um escudo muito estiloso.
Marco
Apocalipse – A adolescente guerreira Annie, estudante da arte da
piromancia.
Gaby
Raveninha – Ravena, a coveira sacerdotisa de Sezrekan; e a
feiticeira canibal Angel.
Nathan
Novato – A astróloga andrógena Lucca, especialista em se esconder
nas sombras.
Rahdomir,
a cidade-fantasma
Já
era a segunda semana de viagem da Trupe e embora a região que rodeia
Punjar não fosse exatamente segura, os aventureiros já possuíam
experiência o suficiente para poder evitar os perigos. Guiados pela
“visão espectral” de Jorge, traçavam seu caminho por dentre as
florestas e rios. Em sua memória, o atirador lembrava bem das
palavras que seu aliado Anector proferira antes da partida. Segundo
ele, havia uma lenda acerca da cidade de Rahdomir, um pequeno
vilarejo que há centenas de anos havia sido devastado pelas pragas
das trigêmeas bruxas. O local, agora intocado e jamais explorado,
aguardava envolto em morte e podridão.
Logo
atrás de Jorge seguia o valente Pedro Joaquim, que decidira
acompanhar o grupo após a última aventura. Tocado em sonho pelo
titã-árvore que conhecera na floresta de Ispazar, resolveu deixar
pra trás sua vida de lenhador e cultuar ao grande Pai-Natureza.
Agora armado com os milagres de sua divindade, poderia enfrentar os
inimigos que se colocassem em seu caminho. Interessante comentar que
o jogador fez uma mistura de sotaque e interpretação que fazia o
personagem soar do interior e tal, algo bem caricato. Eu
particularmente adoro esse tipo de coisa que mistura o sério e o
cômico!
O
restante dos aliados seguia logo atrás, Maria Márcia caminhando com
seu salto alto, Lucca sempre quietona e se esgueirando nas sombras,
Ravena desfilando cheia de si pareada por seus “servos” Gibrin e
Annie. Angel era quase a última da fila, silenciosa e observadora
como sempre. Goblin, por sua vez, protegia a retaguarda do grupo
enquanto ensaiava golpes com seu sabre mágico de energia escura.
Com
o passar do dia, a mata foi ficando mais pobre e os animais rareando.
Do topo de uma colina a Trupe pôde
avistar um vilarejo abandonado, onde as chamas espectrais de Jorge
apontavam. Pouco restava do pequeno amontoado de casebres tomado pela
erosão do tempo. As ruas foram tomadas por vegetação, as
plantações foram devoradas por insetos há muito e, nas poucas
casas que não haviam cedido ao desabamento, praticamente nada de
valor parecia poder ser encontrado. Nada além de eventuais insetos
pareciam habitar o local, onde nem mesmo os animais ousariam tocar
aquele solo de perdição e morte.
A
pequena Rahdomir se apresentava logo a frente, contudo a noite não
tardava em cair. Resolveram se banhar no rio que cruzava a região e
descansar durante o crepúsculo,
deixando
a exploração para o dia seguinte. Durante o momento de lazer,
contudo, a sacerdotisa Ravena teve um terrível calafrio, uma
sensação de que algo ou alguém os observava. Algo com uma aura
gigantesca de poder… Felizmente, nada além dos enxames de insetos
os perturbaram durante a penumbra.
No
dia seguinte, bem descansados e prontos para os perigos que poderiam
enfrentar, desceram a colina seguindo o curso do rio, rumo ao pequeno
vilarejo.
Um
moinho e várias colheitas devastadas podiam ser vistas, uma
vegetação horrível cheias de cipós e espinhos cobria o terreno
onde anteriormente deveria haver trigo e verduras em fartura.
Gafanhotos sobrevoavam e atazanavam a Trupe, que avançava cuidadosa
e desconfiada. Ao atravessarem uma ponte antiga que cruzava o rio,
puderam ver seus reflexos cinzentos na água que, ao cortar Rahdomir,
adquiria um aspecto escuro e macabro. Avistaram um grande casarão e
o que pareciam ser depósitos ou senzalas próximas. Jorge sugeriu
que verificassem o casarão, mas seu estado denunciava que o local
poderia cair a qualquer momento. O cheiro extremamente pútrido que o
lugar exalava também deixou o grupo temeroso e os impediu de entrar.
Gibrin, entretanto, atacou com suas armas até derrubar o casarão, o
que fez um barulho muito alto. Talvez não tenha sido uma boa ideia,
mas o jogador quis se certificar de que nada sairia dali pra
atacá-los. Em seguida avançaram rumo aos depósitos e descobriram
que se tratavam de alojamentos de escravos, onde puderam encontrar
poucos itens de valor e uma carta dentro de um bauzinho. A carta não
dizia muito, uma vez que a maior parte do papel estava consumido pelo
tempo, mas era possível discernir algo como “sussurros das
trigêmeas Yoros”.
Goblin
chamou a atenção do grupo notificando acerca de uma espécie de
buraco ou fenda recém-descoberta dentro de um dos alojamentos. O
grupo todo à borda da fenda macabra discutia o que poderia haver lá
dentro. Acenderam uma tocha e apontaram para o buraco, mas o fundo
parecia estar bem mais abaixo. Jorge jogou uma pedra, mas não ouviu
o som dela batendo no fundo, apenas raspando nas laterais. Lucca,
muito curiosa, deu a ideia de unirem suas cordas com nós, o que deu
pelo menos uns trinta metros de comprimento: deveria ser o suficiente
pra alcançar o fim do buraco. Combinou com o grupo como fariam e
resolveu descer pendurada e se apoiando nas laterais, enquanto
seguravam a corda. Entretanto, o “gênio” do jogador esqueceu de
levar uma tocha, então não pôde ver nada além da escuridão. Foi
descendo, descendo,
descendo…
Mas nada de chegar no fundo da fenda. Quando a corda estava quase
estendida, a ladina começou a ouvir ruídos como o som de várias
patinhas caminhando pelas pedras. O som rodeava, passeava próximo
dela e se aproximava devagar, ao ponto da mulher ouvir o mastigar das
presas do que quer que fosse aquela criatura. Com um medo miserável,
deu dois puxões na corda, um sinal para que seus companheiros a
tirassem logo de lá – eles não perderam tempo e puxaram todos de
uma vez, o que acabou rompendo a corda… Por sorte Lucca estava
apoiada nas rochas e não caiu, mas agora estava só contra a
besta-insetoide gigante! Com uma rolagem muito sortuda, o jogador
conseguiu tirar sua personagem daquela terrível situação e escalar
a parede íngreme do buraco com velocidade e escapar da morte certa!
De
fôlego retomado, mas ainda mais confusos acerca do mistério que
assolava o vilarejo fantasma, decidiram prosseguir para as antigas
plantações, onde encontraram outro estranho casarão
– este
com vestígios que davam a entender que se tratavam de uma fazenda
pecuária. Decidiram destacar um grupo que ficaria responsável por
explorar o lugar: Jorge e Lucca entrariam, Goblin estaria atento na
porta caso algum problema ocorresse, enquanto o restante assistiria
de uma distância segura, abaixo de uma antiga árvore morta.
No
meio do caminho dentro do casarão, Lucca desistiu e deu meia volta,
pois não se achava apta a encarar o que quer que houvesse lá
dentro, então decidiu pedir emprestado o sabre de energia negra do
anão e rodear a casa pelo lado de fora, meio que se posicionando de
guarda também. À Jorge ficaria incumbida a missão de vasculhar –
era ele quem buscava o Fruto
do Diabo,
nada mais justo do que ele mesmo correr a maior parte dos riscos.
Buscou vestígios pela sala e cozinha, mas só achou prataria antiga
e uma horrorosa barata gigante que tratou de deixar quietinha no
canto dela. Mas barulhos no corredor chamaram sua atenção.
Enquanto
isso, nuns arbustos próximos à velha árvore, algo também chamava
a atenção de Maria Márcia. A anã ouviu algo se movendo, como que
se escondendo no meio da vegetação e resolveu por si só sair pra
averiguar, Gibrin e Annie a acompanharam, deixando para trás Ravena,
Angel e Pedro. Ravena, nutria um péssimo pressentimento sobre aquele
lugar…
Os
arbustos eram espinhosos e feriam a pele, e era difícil ver qualquer
coisa naquela vegetação densa. Gibrin, Annie e Maria Márcia
seguiam em fila quando ouviram um canto choroso em murmúrios, como
um terrível lamento cantado. Não tardou que fossem atacados de
súbito por algo que não poderia de forma alguma ser considerado um
ser humano, mas que talvez um dia já houvesse sido. Tinha aspecto
feminino, era desprovido de pelos e cabelos, usava mordaça e venda,
carregando consigo
uma vela negra. Logo mais três como aquela “mulher macabra”
surgiram e cercaram os guerreiros, largaram no chão suas velas,
abriram suas mãos em garras e partiram pra cima num ataque brutal.
Jorge
andava com cautela dentro da mansão abandonada, uma vez que qualquer
passo em falso poderia causar um desmoronamento, entretanto os sons
que ouvia denunciavam baques fortes numa das paredes, como o som de
alguém arremessando mobília. Passando por um corredor estreito,
vislumbrou pinturas nas paredes que haviam resistido a ação do
tempo que mostravam uma família religiosa de uma época bem arcaica.
O quadro, contudo, caiu no chão com o impacto que as batidas
causavam. Poeira do teto sinalizava que o casarão poderia cair em
breve, mas o atirador caolho precisava descobrir o que causava aquele
som. A silhueta de uma mulher se mostrou em sua frente, de cabelos
loiros, uma capa velha e espada em punho, ao seu redor voavam objetos
– vasos, madeira podre, quadros antigos – de uma maneira
extremamente bizarra. Jorge observou por um momento, atônito, até
criar coragem e disparar um de seus projéteis. A mulher se esquivou
e os objetos ao redor dela começaram a ser lançados para todos os
lados – inclusive nela! Lucca, do outro lado da parede, ouviu os
sons e agiu impetuosamente, sacando o sabre derrubando a parede
traseira da casa. O resultado foi um terrível desabamento onde Jorge
mal teve tempo pra pensar, apenas pra agir. Deixou a mulher para trás
e por pouco conseguiu escapar da morte certa. Goblin o ajudou a sair
dali enquanto a poeira do desabamento cobria o lugar.
A
cena da mulher e os objetos voadores acabou bem ambígua e o jogador
interpretou que ela era uma bruxa e tudo mais, por isso o ataque
contra ela. Mas na real era uma exploradora como eles, uma moça que
queria vingança contra a as bruxas e poderia ser de utilidade, caso
se unisse ao grupo.
Ravena
e os outros deveriam estar protegidos longe dos perigos do casarão e
da vegetação macabra, mas, na verdade, se sentiam extremamente
vulneráveis. Principalmente quando passaram a ouvir sussurros aos
seus ouvidos.
No
meio dos arbustos, Gibrin tentava prender as inimigas com sua lança,
mas as malditas eram muito esquivas, atacando e saltando na
vegetação para se esconder. Maria Márcia defendia seus colegas com
seu machado anão e seu escudo mágico, mas logo perdeu a paciência
e disparou seus famosos lasers, cortando boa parte dos arbustos que
as criaturas usavam como cobertura e matando uma ou duas delas no
processo. Seus colegas também acabaram se ferindo, mas nada muito
grave. Ossos do ofício. O combate foi complexo, mas a Trupe saiu
vitoriosa, derrubando todas as mulheres-monstros. Era hora de saber o
que eram, de fato, aquelas terríveis criaturas. Gibrin desatou a
mordaça de uma delas e forçou sua mandíbula a se abrir, o que
revelou uma turba de vermes fétidos que saltaram na direção do
anão, que não foi infectado por pouco. Antes que pudessem entender
de fato do que se tratava aquilo, ouviram o som do desabamento do
casarão e saíram correndo para proteger Ravena e os outros.
As
Bruxas Sussurrantes e o Dragão-Aberração
Três
mulheres de pele avermelhada, vestes brancas amareladas e trejeitos
bizarros se puseram a frente de Ravena, Angel e Pedro, seus sussurros
inundando os ouvidos dos presentes. Os murmúrios evocavam pragas
terríveis e dentre as palavras podia se ouvir em alto e bom som uma
estranha frase macabra: “Mikadeph, venha a nós o
vosso reino”.
As
três mulheres possuíam visual semelhante àqueles monges fervorosos
que se autoflagelam em busca de “redenção”. Cada uma das irmãs
privou-se de um dos sentidos em prol do louvor a seu mestre
aberrante: a mais velha arrancou os olhos e cobriu as órbitas com
uma faixa branca, simbolizando a escuridão propagada por seu mestre;
a irmã do meio estourou os próprios tímpanos, que passaram a
escorrer sangue incessantemente, simbolizando a voz retumbante do
tirano; e, por fim, a irmã mais nova cortou a língua e costurou os
próprios lábios, desejando não pronunciar mais uma palavra sequer
depois de conhecer o nome de seu lorde.
Gibrin
chegou de súbito, interrompendo o confronto de bruxas que se dava
entre as trigêmeas e Ravena, empalando a irmã da boca costurada, o
que gerou expressão de espanto nas outras duas. Poucos segundos
depois, entretanto, ambas tornaram a sussurrar os segredos malignos
que cantavam, dessa vez com ainda mais fervor e um estranho sorriso.
Toda a trupe de aventureiros recuou e se reorganizou, Jorge preparou
a pontaria e mirou nas bruxas malditas. Estavam muito temerosos
acerca das pragas das feiticeiras malignas, mas não contiveram seu
poder de fogo ao atacá-las. Em dado momento as bruxas cessaram seus
cânticos e levantaram as garras sujas e podres na direção dos
aventureiros, contra-atacando e ferindo superficialmente seus
inimigos. O combate não durou muito tempo, pois era muito clara a
vantagem de poderio da Trupe, o que foi, na verdade, muito estranho
pra eles. O que eles não sabiam era que, acima de Rahdomir, um
enorme portão duplo se formava no céu.
Quando
a última das trigêmeas foi ao chão, sua risada ribombou como um
trovão, estremecendo todo o pequeno vilarejo e os aventureiros
junto. Ao olharem para o céu, puderam perceber que portas se
projetavam das nuvens, viradas para baixo. A intuição de Ravena
dizia que aquilo era um terrível presságio, como um apocalipse…
Os portões no céu se abriram, uma gigantesca massa de carne
pulsante caiu, fez um enorme estrondo e uma pequena cratera. Era como
se trombetas macabras soassem enquanto aquela bola de podridão e
horror tomava forma, exibindo quatro patas terminadas em garras
afiadas como espadas e uma bocarra com mais dentes do que se poderia
contar. Sua figura de quase dez metros de comprimento era atarracada
como a de um crocodilo, mas com uma cabeçorra desproporcional ao
corpo cuja face exibia um único olho, de aspecto intimidador e
hipnótico ao mesmo tempo. Detrás de sua cabeça, asas de couro se
projetavam, pequenas demais para o seu tamanho, completando a
horrorosa silhueta daquela aberração.
Um
dragão? Uma aberração? Quem sabe ambos? Não importa, o que
importava é que todas as atenções daquele ser horroroso agora se
voltavam a Trupe do Pacto, que tremia, paralisada.
Os
combatentes se entreolharam, não haveria outra escolha além de
lutar. Aquilo era grande demais pra que pudessem fugir – além do
que, ainda estavam em busca do Fruto do Diabo, não deixariam
Rahdomir até que encontrassem-no para seu amigo Jorge. Os anões
avançaram com tudo enquanto Jorge cobria a retaguarda disparando
seus projéteis. O atirador teve muita dificuldade devido a sua
deficiência em pontaria, mas fazia o seu melhor. Os ataques dos
anões pouco dano faziam à carapaça de escamas da criatura
demoníaca, que respondia balançando suas garras, como se estivesse
apenas brincando com os aventureiros de forma sádica.
Ravena
e Pedro Joaquim curavam os aliados na medida do possível, mas sem
arriscar cair em desaprovação de suas entidades patronas, enquanto
lançavam algumas magias úteis para atrapalhar o monstro. Lucca,
sabendo de sua fragilidade, evitava o combate direto, buscando
golpear os pontos cegos que identificava. Já Annie, extremamente
resiliente para sua idade, fazia ataques em arco loucamente com seu
machado gigante. Após poucos turnos de troca de golpes, a Trupe
percebeu que o inimigo era poderoso demais para eles, que já se
encontravam bastante feridos. O dragão-ciclópico gargalha, se
divertindo com tudo aquilo. Mas já era hora de parar com as
brincadeiras. Com um golpe violento – dessa vez com sua verdadeira
força –, derrubou os inimigos todos de uma vez. Angel canalizou
sua energia arcana e invocou um tipo de corda mágica para distrair o
inimigo enquanto ajudavam seus amigos a levantaram-se. Annie e Jorge
se entreolharam e tiveram uma ideia: se não podiam atacar o inimigo
por fora, atacariam por dentro! Ambos correram rumo a bocarra do
monstro, a garotinha protegendo a retaguarda e o atirador assumindo
os riscos e se jogando dentre as presas! O que eles não contavam é
que a criatura, ao mesmo tempo, começou a encher os pulmões,
preparando algo… Foi disparado um jato de uma substância
esverdeada que mais parecia vômito e que queimava intensamente ao
toque. Ambos os guerreiros, Annie e Jorge, foram atingidos em cheio
pela substância e não conseguiram reagir para escapar. Suas roupas
e até suas carnes derreteram diante daquela substância nojenta.
Seus companheiros observaram impotentes enquanto seus amigos morriam
perante a aberração.
Agora
era questão de honra! Não importa o que fizessem, a Trupe
derrubaria aquela criatura maldita que ousava os desafiar. Angel
ordenou à sua corda mágica que se enroscasse num dos braços da
criatura que revidou evocando palavras arcanas e aumentando de
tamanho, adquirindo quase quinze metros de comprimento. Pedro Joaquim
invocou o poder de seu deus-titã e conjurou enormes raízes pra
ajudar Angel a manter o braço do monstro no chão. Com uma das
garras fora jogo, a Trupe adquiriu uma vantagem. Mas o que fariam com
isso?
Gibrin
e Goblin mantinham o inimigo ocupado enquanto faziam chover golpes de
lança, machado e escudo
que,
entretanto,
pouco dano faziam. Lucca passou a arremessar várias adagas que tinha
guardadas, visando atingir o olho do bicho – um ponto fraco que os
daria muita vantagem –,
mas
era uma tarefa incrivelmente difícil. Ravena mantinha a distância
por sua própria segurança e curava prontamente seus companheiros
que
se feriam.
Maria Márcia, por sua vez, pensou numa estratégia bastante suja e
quase suicida. Ela, assim como seus amigos, tentaria entrar no corpo
do monstro e feri-lo de dentro pra fora, mas não entraria pela boca.
Não, não. Ela entraria por, digamos, um outro buraco do monstro.
Ideia idiota? Muito. Eu permitiria aquilo? Com toda a certeza, sim.
Pedro
parece ter captado a ideia da anã que, embora vaidosa, se submeteria
àquilo pela vitória, e, conjurando sua magia de ordem, ordenou o
inimigo que se jogasse no chão, facilitando a entrada da
companheira. Pedi alguns testes e, enfim, Maria Márcia conseguiu o
que queria. Por meios bastante sujos, mas, de uma forma ou de outra,
estava dentro do monstro. Agora teria um longo caminho a percorrer
até chegar ao intestino e poder causar danos de fato, além de ter
de lidar com o esmagamento e substâncias químicas nocivas!
O
restante da Trupe teve de se manter enquanto a anã punha em prática
sua tática suicida, golpeando e defendendo os contra-ataques
potentes da criatura, que começava a recuar por conta das
insistentes investidas daqueles meros mortais. Entretanto o lorde
aberrante não poderia mais fugir, uma vez que raízes e cordas
encantadas o mantinham agarrado ao chão, preso. No mais, ele sentia
uma terrível sensação em suas entranhas…
E
finalmente ao chegar aos intestinos, Maria Márcia já não mais
conseguia aguentar dentro do organismo hostil daquele monstro
bizarro. A jogadora, que já estava muito empolgada em finalizar
aquilo, descreveu um golpe em arco horizontal que abriu o bucho do
monstro quase de uma ponta a outra, fazendo as tripas saltarem pra
fora com muita secreção e sangue, deslizando ao chão a anã e
alguns órgãos junto. Um urro assustador foi ouvido, os aventureiros
tremeram em suas bases, mas sabiam que não deveriam recuar agora –
pelo contrário! – deveriam avançar com mais vontade ainda. Gritos
de guerra foram ouvidos, os anões investiram novamente, o dragão
pôs sua pata protegendo a ferida e tentou disparar um novo sopro,
mas dessa vez os aventureiros conseguiram se proteger e diminuir os
danos.
Eu
ainda tinha duas ou três cartas na manga e decidi que era hora de
revelar uma delas: a aberração pareceu forçar algo pra fora do
estômago, como se fosse vomitar,
e
então uma massa escura e extremamente fétida foi expelida de sua
enorme bocarra. A massa de vômito, em pouco mais de um instante
tomou forma, gerando uma criatura de tamanho humano e aspecto
infernal, serva do dragão tirano. Possuía torso humanoide
emoldurado por crostas de rocha fundida sob o corpo de um animal
quadrúpede de cascos, fazendo-o se assemelhar a uma espécie de
centauro diabólico. No lugar dos braços, entretanto, possuía
tentáculos extensos de quase dois metros de comprimento, finalizando
sua aparência bizarra e monstruosa.
A
criatura-centauro galopava em direção ao aventureiros balançando
seus tentáculos bizarros que congelavam ao toque. Ao mesmo tempo,
era difícil de se aproximar do corpo do monstro sem se queimar
devido ao calor emanado das rochas fundidas, mas nada que um bom
trabalho em equipe não pudesse superar. Tive azar e só consegui
invocar um minion do monstrão, rolando 1 no d4. Malditos jogadores
sortudos!
Foi
só uma questão de tempo até o centauro e o dragão-aberração
caírem mortos. O golpe final foi dado por Gibrin, que saltou com
toda a força das pernas e desferiu um “ataque guilhotina”,
aumentado a ferida aberta por Maria Márcia. Todos tiveram de correr
quando o corpo,
já
sem vida, do monstrengo ameaçou cair por cima do grupo! O estrondo
derrubou um casebre próximo, mas o silêncio que veio em seguida foi
tranquilizante. Suados, feridos, exaustos e arfantes, os aventureiros
deixaram seus corpos caírem ao chão. Outros se apoiavam nas armas
pra ficarem de pé, enquanto Maria Márcia estava orgulhosa de sua
ideia ter dado certo (embora estivesse fedida e de honra abalada).
Ravena
e Pedro lamentavam pelos amigos perdidos: Annie era tão nova e ainda
tinha uma vida inteira pela frente… Já Jorge era um membro muito
querido do grupo e a razão da incursão a Rahdomir. Sua busca pelo
Fruto do Diabo movia o grupo e fora a motivação pra permanecer
mesmo diante daquele monstro terrível. Mas agora que ele se fora,
tudo aquilo estava perdido. Mas talvez não completamente.
O
som de algo pulsando foi ouvido por toda a Trupe, pulsando como um
coração. O coração da aberração continuava a bater! Ela ainda
estava viva? Não, não era isso. O coração, pequeno como uma maçã,
flutuou pra fora do cadáver, permanecendo um metro acima do chão.
Aquele era o Fruto do Diabo! Mas agora que Jorge estava morto, quem
deveria ficar com a recompensa?
Bom,
isso deu uma pequena briga entre os jogadores, pois Arthur queria que
Gibrin tomasse o fruto pra ele, uma vez que seu personagem era louco
por poder. Thigas, por sua vez, reclamava pra si o tesouro: se não
poderia ter com Jorge, teria pco seu outro personagem, o clérigo
novato no grupo. A discussão se deu por uns dez minutos, Arthur deu
o braço a torcer e todos concordaram que Thigas realmente era o
merecedor do espólio. Sendo assim, Ravena, como líder do grupo,
apontou Pedro Joaquim II como aquele que devoraria o Fruto do Diabo,
carregando consigo a vontade de Jorge, o mercenário louco. O
personagem, meio sem reação, tomou nas mãos o coração daquela
criatura macabra e aceitou seu papel, devorando como um selvagem. Com
as mãos e a boca do personagem muito sujos de sangue, pedi um teste
pra o jogador, que infelizmente falhou. O personagem se viu envolto
no que pareciam ser pequenos raios de eletricidade e sentiu um imenso
mal estar. Foi coberto por um brilho intenso e em seguida sumiu, sem
sequer dar pistas acerca de como.
Ravena
não pensou duas vezes, se concentrou e fez um pequeno ritual pra
tentar detectar a energia espiritual de seu companheiro, rogando a
Sezrekan para que desse certo. Ao fechar os olhos, a bruxa pôde
sentir e contatar seu colega de aventuras. Era como se estivesse lá,
junto deles, mas, ao mesmo tempo, não estivesse. Como se fosse um
mundo diferente, mas, ao mesmo tempo, aos moldes do da Trupe. Ao
concentrar um pouco mais, conseguiu tocar na mão de Pedro e, puxando
com todas as suas forças, trazê-lo de volta ao mundo original. O
clérigo, entretanto, parecia mudado, seus olhos brancos e sua
expressão estática. Para onde ele teria ido? Teria ele conseguido
os poderes prometidos pelo Fruto do Diabo? Se sim, quais? E quais as
consequências? Essa e outras perguntas só seriam respondidas com o
tempo. Muito tempo, diga-se de passagem.
Conclusão
Esse
foi um dos diários que mais me deu trabalho pra escrever, uma vez
que foi uma sessão muito
cheia de coisa.
O clima sombrio da cidadezinha, a exploração bem sóbria e
misteriosa, o combate com o séquito das bruxas, as trigêmeas Yoros
e o próprio lorde aberrante. Foi uma sessão longa com um combate
extremamente mortal, mas que, sinceramente, me surpreendeu muito.
Primeiro, pela progressão de poder em DCC: os personagens estavam lá
pelo nível quatro e, em comparação com o nível um ou mesmo o
nível zero, já eram muito, mas muito épicos! Nunca imaginei que a
Trupe fosse dar conta do monstrengo que montei, mas eles suportavam
muito bem os ataques e conseguiam dar uma boa quantidade de dano. Deu
pra ver que os jogadores também sentiam seus personagens mais
fortes, mais épicos mesmo, sabe?! Em segundo lugar, as ideias dos
jogadores foram muito legais, todo o lance de prender o monstro,
tentar atacá-lo de dentro pra fora e tudo mais (a ideia da Concita
deixou geral rolando de rir por um bom tempo!).
Atualmente
a campanha da Trupe do Pacto está em hiato, mas eu realmente estou
querendo muito retomar nossas aventuras, e os comentários de vocês
só me estimulam a voltar com nossa adorada Trupe. Mas e aí, o que
acharam do diário de hoje?