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Arte por Krishna Raju. |
Acho que
me esqueci de comentar no diário passado, mas, quando voltamos com a campanha
da Trupe do Pacto, dois dos jogadores informaram que não poderiam mais
participar das sessões.
Arthur, jogador de Gibrin e Goblin, cedeu seus personagens a Igor, amigo nosso que sempre acompanhou a campanha e até me ajudava de vez em quando nos combates. Já Apocalipse, cuja personagem Annie morreu na aventura das bruxas de Rahdomir, desanimou e deixou de dar notícias. Tudo bem, afinal ele anda trabalhando e estudando, e eu sei como é difícil.
Como a
personagem dele já havia morrido, achei desnecessário trazer outro jogador para
ocupar seu lugar — afinal, mais um jogador tornaria ainda mais difícil marcar
um dia em que todo mundo pudesse comparecer à sessão.
Sobre as Últimas Sessões
Anteriormente,
acompanhamos a Trupe do Pacto, um grupo de aventureiros mercenários de índole
duvidosa, em sua jornada em busca de glória e ouro. Depois de aguardar uma
década, a Trupe pôde assistir, mais uma vez, à Torre da Pérola Negra emergir do
meio do oceano, trazendo consigo as velas místicas de Sezrekan, artefatos cujo
poder conseguiria trazer os mortos de volta à vida. Após uma grande aventura,
os aventureiros buscaram por Dandara, uma das únicas companheiras que
conseguiram ressuscitar.
Confira o restante de nossas aventuras.
Os membros da Trupe
Gibrin,
portador da lança-lupina, 4º nível; Goblin, o anão corrompido, 4º nível [Igor].
Pedro
Joaquim II, clérigo do deus-titã, 3º nível [Thigas].
Maria
Márcia, anã guerreira, 3º nível [Concita].
Ravena,
sacerdotisa de Sezrekan, 3º nível; Angel, feiticeira infernal, 2º nível [Gaby].
Lucca,
ladra astróloga, 3º nível [Nathan].
Em Busca de Dandara
Nosso
capítulo se iniciou com os aventureiros próximos da região onde outrora se
situava a cidadezinha de Hirot. Uma semana ou duas haviam se passado desde a
última aventura, em que os aventureiros roubaram o navio dos homens-peixes,
despistaram seus inimigos e deixaram a embarcação ancorada na já conhecida vila
costeira próxima da Torre da Pérola Negra. O vilarejo, agora nomeado como Porto
da Pérola, em homenagem às aventuras do grupo, guardava o navio em troca de
poder utilizá-lo como ponto de turismo, chamando a atenção de caravanas
mercantes.
Mas, como
eu já disse acima, agora a Trupe se encontrava nas redondezas de Hirot, em
busca de Dandara. Não sabiam exatamente como funcionava a ressurreição
possibilitada pelas velas místicas, mas deduziram que o indivíduo voltava no
local onde seu corpo originalmente havia morrido. E Dandara, a feiticeira serva
da deusa Nebulosa, havia morrido em algum lugar nos pântanos de Hirot, ainda no
início das aventuras da Trupe do Pacto. Concita, a antiga jogadora da
personagem, estava bastante ansiosa, uma vez que sempre gostou de Dandara.
O clima
estava ameno e uma densa neblina permeava a região. O rio que outrora corria
serpenteante agora se revelava timidamente como um ínfimo fio de água corrente.
A torre em espiral dos homens-serpentes de uma antiga aventura também se
encontrava lá, em algum lugar da floresta, escondida pela neblina. Completando
a ambientação selvagem e hostil, cipós e raízes cobertas de espinhos cobriam o
chão e as árvores, quase como se a própria natureza agressiva do lugar
mostrasse suas garras.
Pedro
Joaquim e Goblin tomaram a dianteira, guiando o grupo enquanto perguntavam informações
aos outros que já conheciam o lugar. Pedro era um antigo lenhador, sabia se
guiar muito bem na floresta, mas mesmo ele sabia que, diante de um ambiente tão
estranho e hostil, qualquer vacilo de sua parte poderia colocar o grupo em
apuros.
O ex-lenhador
resolveu testar seus novos poderes adquiridos pelo Fruto do Diabo, que, pra
quem não sabe, eu criei baseado no conceito de akuma no mi, do anime One Piece — um tipo de fruto sobrenatural que
concede poderes bizarros ao usuário. O poder concedido a Pedro foi o de
transformar seu corpo num relâmpago vivo e controlá-lo a seu bel-prazer. E
assim ele ativou uma de suas habilidades: a de emitir pulsos eletromagnéticos e
captar aqueles que tivessem o mesmo tipo de campo, de forma a perceber e
localizar objetos e pessoas.
Em posse
de uma pedra estranha, similar a uma possuída por Dandara, Pedro Joaquim
conseguiu uma direção a seguir: ao norte. Dandara estava em algum lugar ao
norte de Hirot.
Minha
proposta para essa sessão foi um hexcrawl, que, pra quem não conhece, é uma
modalidade de jogo em que o foco é explorar a região através de hexágonos, cada
hexágono simbolizando um trecho da viagem no mapa. Cada hexágono possui seus
eventos, encontros e tudo mais, aleatórios, proporcionando espaço para uma
narrativa plenamente emergente. De tempos em tempos, os jogadores deveriam
realizar testes para não se perderem na floresta e rolar dados para verificar a
possibilidade de dar de frente com encontros aleatórios. E, logo de primeira,
os jogadores deram de cara com o pé de uma pequena formação montanhosa.
A tribo do antehumanos
Homens
com fortes traços símios, corpos delgados e eretos se mostraram diante da
Trupe, espantados e, ao mesmo tempo, admirados com a presença dos invasores de
seu território. Portavam lanças rudimentares e se comunicavam através de
grunhidos bestiais. A Trupe tinha uma vaga lembrança de ter libertado seres
semelhantes àqueles há dez anos, na incursão à torre dos homens-serpentes, mas
discutiam agora a possibilidade de um confronto.
Antes que
pudessem tomar a iniciativa, um pequenino daqueles primitivos surgiu trazendo
consigo o que parecia ser um ancião — posição indicada por sua postura e pelos
grisalhos. O ancião, com expressão emocionada e reconfortante, tentou se
comunicar com o grupo. Ravena e Goblin reconheceram aquele como, de fato, um
dos libertados por eles outrora e inclusive arriscaram uma conversação através
de gestos e sons simples. O ancião teve até uma cena engraçada, levantando
Goblin como o “maior herói de seu povo” e o segurando de forma similar a Rafiki
segurando Simba no início de Rei Leão.
Os
primitivos levaram seus heróis até a sede da tribo, no topo das pequenas
montanhas, e festejaram com eles por seus grandes feitos. A tribo era muito
rústica e de hábitos asselvajados, mas de gente pacata e boa. Apesar de tudo, a
Trupe decidiu não confiar por completo, deixando Maria Márcia de vigília a
noite toda, observando algum possível ataque noturno por parte dos primitivos
(acho que treinei bem os meus jogadores; gargalho internamente toda vez que
eles têm essas paranoias).
As
suspeitas se provaram falsas quando amanheceu e, em vez de serem “traídos e
atacados pelas costas”, os aventureiros receberam apoio do líder dos primitivos
através do envio de um guia que pudesse levá-los até a borda dos alagados de
Hirot.
É claro
que, antes de ir, Goblin enalteceu seus próprios feitos, de forma a ser tratado
como um tipo de deus, pois queria atrair a devoção dos primitivos — o que
parece ter funcionado, aliás.
Mas os
aventureiros não podiam perder mais tempo. Era importante seguir a trilha até
os alagados e encontrar Dandara, então desceram a montanha e seguiram pela
curta planície, guiados pelo caçador-símio. O trecho durou entre uma e duas
horas de caminhada e não teve acontecimentos relevantes, exceto por uma pegada
de quase um metro de comprimento. Os aventureiros decidiram ignorar a pegada e
continuar seu caminho, uma vez que a marca levava para uma direção diferente
dos alagados. Eles não sabiam, mas aquilo foi um foreshadowing.
O pântano
O
ambiente à frente se mostrava tomado por água suja, poças de lama e vegetação
de aspecto macabro, ao mesmo tempo em que um uivo diabólico podia ser ouvido
bem distante.
Em dado
momento, o caçador parou e informou que não poderia seguir em frente, pois ele
tinha pavor daquele lugar — era amaldiçoado. O jeito, então, era a Trupe seguir
o restante do trajeto por si só, com Pedro e Goblin voltando a guiar. Próximo
ao meio-dia, decidiram montar um pequeno acampamento e procurar por comida — e
nisso deram de cara com um peixe gigante saltando para fora da lama e se
debatendo. Agarrada em suas guelras, uma espécie de sanguessuga colossal se
alimentava de seu sangue. Cautelosos, os aventureiros preferiram não mexer com
a mãe natureza, deram a volta nos bichões, rodeando o caminho e não mexendo
mais na lama — mas não sem antes garantir seu almoço: um “bodó” que saltou
junto do peixe gigante.
Os
alagados eram úmidos e quentes, mesmo com o clima ameno que se fazia sob a
região, o que dificultava a caminhada, principalmente para aqueles com a pele
mais exposta ao ataque de muriçocas e insetos. Fiz questão de mostrar o quão
opressora era a atmosfera do lugar e que eles não poderiam vacilar enquanto
estivessem por lá — os jogadores pareceram sentir o peso e passaram a agir com
um leve desconforto.
Próximo
das três horas da tarde, ouviram ganidos à frente, semelhantes a latidos de
cães assustados: um bando de chacais do pântano corria assustado, e um deles
acabou trombando com Gibrin e o derrubou no chão. Antes que a Trupe pudesse
sequer entender o que estava havendo, um som ritmado e melodioso emergiu das
profundezas do pântano, revelando o que — ou quem — deixara os chacais tão
assustados.
Um enxame
de homenzinhos minúsculos com asas insetoides e aura brilhante cantarolava e
dançava pelo ar, acompanhados por um tipo de anão fluorescente que tocava
tambor. A Trupe lembrava-se de já ter ouvido sobre aquilo em algum lugar:
provavelmente aqueles eram espíritos traquinos da floresta — amistosos, mas
terríveis caso acuados.
A melodia
era quase hipnotizante, mas os aventureiros já haviam enfrentado coisas piores
e não se deixariam cair no encanto dos espíritos. Ainda assim, para não
ofenderem os pequenos, aceitaram partilhar a dança e rodopiaram junto deles por
um tempo. Goblin, entretanto, tinha seus próprios planos quanto ao que fazer
com os seres mágicos. O anão atraiu um deles para longe dos demais e tentou
capturá-lo; entretanto, não teve êxito e acabou apenas estapeando o bichinho no
ar, o que chamou a atenção de todos os presentes.
Goblin
tentou disfarçar, afirmando que havia somente errado um dos passos da dança.
Seus companheiros preferiram nem se meter na confusão, afastando-se do
personagem. O anão espectral possuiu o corpo de Maria Márcia por alguns
momentos e investiu num ataque contra o traidor, que felizmente conseguiu se
defender. Mas, para os espíritos, aquilo não era o bastante. Todo o bando se
reuniu, voando em círculo como numa ciranda, concentrou um tipo de energia
mágica e disparou em Goblin, que não conseguiu se esquivar.
Antes que
a confusão culminasse em algo pior, Ravena e Pedro chamaram a atenção, tocando
os instrumentos e cantarolando, de forma a acalmar os ânimos. Pareceu
funcionar. As fadinhas esqueceram o ocorrido e voltaram ao festejo. Poucos
minutos depois, a Trupe saiu sorrateiramente e sem causar mais problemas.
Entretanto, agora Goblin tinha caroços esverdeados brotando da mão direita, o
que poderia ser preocupante.
Pedro
perdeu a trilha que estava seguindo e caminhou a esmo junto dos amigos,
buscando algum ponto de referência ou uma clareira onde pudesse observar o sol
e reencontrar seu destino. Havia uma clareira a alguns metros de distância, mas
fumaça denunciava a presença de alguém — ou alguma coisa. Foi a vez de Lucca
tomar a dianteira e caminhar furtivamente a fim de espiar quem habitava o
lugar. Escondida atrás de alguns arbustos, a ladra observou um bando de humanoides
com cabeça de crocodilo, usando armaduras de couro e assando alguma coisa em
cima de uma fogueira. Essa coisa parecia ser um braço humano.
Antes que
Lucca pudesse dar a volta e contatar seus companheiros, sentiu a ponta de uma
lança tocando sua retaguarda. O jogador havia falhado no teste de furtividade
e, por conta disso, foi notado por um croco-homem que havia ficado de vigília.
Apesar disso, por ser muito rápida, a ladra conseguiu agir antes que o inimigo
pudesse fazer qualquer coisa: acionou seu anel de piromancia e convocou
labaredas que o tostaram quase por completo. O jato de fogo chamou a atenção
daqueles que estavam comendo em volta da fogueira e também do próprio grupo,
que correu para acudir sua aliada.
Uma
batalha emergiu, mas rapidamente os croco-homens caíram, uma vez que foram
pegos quase que desprevenidos, demoraram a pegar em armas e a assumir postura
de combate. Os corpos foram examinados e saqueados, mas nada de muito valor era
levado por eles, além de algumas poucas moedas de ouro. Pareciam ser apenas
mercenários. Mas logo, logo anoiteceria, e os aventureiros desejavam evitar o
breu noturno do pântano.
Próximo
ao cair da noite, já fatigados pela terrível caminhada, os aventureiros ouviram
o uivar de um lobo. O uivo não era comum, parecia vir direto da garganta de um
demônio. Logo o uivo passou a ser ouvido de todas as direções, como se várias
daquelas criaturas – ou o que quer que aquilo fosse – estivessem espreitando e
cercando a Trupe.
Assumindo
postura de combate, os personagens já se preparavam para o pior quando um vulto
extremamente veloz saltou rumo a Goblin e desferiu uma terrível mordida com
suas presas no ombro do anão. As presas daquele bichão eram grandes como uma
armadilha-de-urso, e a silhueta do corpo parecia borrada como uma sombra.
Apesar disso, sua imagem era inesquecível: aquele era o Cão de Hirot,
enfrentado outrora pelo grupo no início de sua jornada.
O cão
imortal se punha mais uma vez diante do grupo, voraz e terrível. Goblin lançou
um ataque que mal feriu o lupino, mas deu brecha para um dos potentes lasers de
Maria Márcia: a jogadora rolou um resultado muito alto em seu teste de
conjuração para evocar os raios e conseguiu disparar o mais poderoso de seus
ataques até então. Um feixe multicor rasgou o chão e evaporou o corpo do
monstro em um golpe só! As cinzas, entretanto, voaram como se tivessem vontade
própria – Lucca percebeu que rumavam a um tipo de ravina esquisita no meio do
pântano. Optaram por ignorar por enquanto e prosseguir em sua busca por
Dandara.
A lua já
pairava esbelta no céu quando os aventureiros se depararam com uma espécie de
caverna, rodeada de fragmentos de cristais. Alguns rastros indicavam que havia
movimento recente no lugar, mas o que parecia ser a entrada estava tampado por
uma enorme rocha circular, pesada demais para ser aberta pelas mãos de um homem
normal.
Era lá
que estava Dandara? Que tipo de ser habitava aquele lugar? Sem tempo ou
paciência para pensarem demais, a Trupe concordou em avançar, mesmo estando
fatigada. Mas isso é algo para próximo diário de sessão.
Conclusão
A sessão
foi bastante divertida e cheia de exploração, bem como eu estava planejando. O
estilo hexcrawl é bem legal e, mesmo que eu só tenha incluído alguns poucos
elementos desse tipo de jogo, me serviu muito bem pra aventura.
Só que
talvez eu devesse ter conversado melhor a proposta com os jogadores, explicando
a pegada, dando algumas dicas de como eles poderiam agir e ouvindo suas
expectativas. Digo isso porque senti que, no final da sessão, os jogadores já
estavam realmente cansados de tantos elementos e paisagens e encontros e coisas
acontecendo quase o tempo todo.
O final
da sessão foi realmente legal e deixou o gancho pra próxima, onde eles vão
explorar a caverna e talvez conseguir resgatar sua companheira, a feiticeira
renascida.
Olá Lucas e olá amigos da trupe. Gostei dessa postagem, hexcrawl é muito legal. Fico feliz com a possibilidade de Dandara voltar ao grupo. Esses raios da Maria Márcia, é alguma magia do livro ou você criou esse poder?
ResponderExcluirFoi bem daora essa sessão de hexcrawl, o pessoal da Trupe sentiu a pressão desse desafio de sobrevivencia. Quanto aos raios, dentro da historia a anã foi abencoada por uma entidade extraterrena e tals. Em questao de regras, a personagem ganhou a capacidade de conjurar a magia Raio Ardente (Scorching Ray, no original) até tres vezes por dia. Ca entre nos, costumo dar esse tipo de poder e item magico pros jogadores quando eles conquistam alguma coisa, dá um efeito bem daora e deixa os personagens mais unicos!
ExcluirLegal! obrigado por responder. Uma coisa que eu faço, é deixar elfos usar personalidade OU inteligência para modificador de magia, acho que fica mais mistico e tal, a ligação deles com o patrono. Mas gostei disso que vc faz de dar poderes.
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